Por Altamiro Borges
Num primeiro momento, a mídia brasileira ficou confusa e dividida diante
do golpe relâmpago no Paraguai. Colunistas amestrados da direita, como
Reinado Azevedo e Augusto Nunes, da Veja, e Merval Pereira, da Globo,
aplaudiram os
golpistas e até justificaram a deposição “democrática” de Fernando Lugo.
Já nos
editoriais, mesmo sem usar o termo “golpe”, jornais e emissoras de
televisão estranharam
a rapidez do impeachment e foram mais cautelosos. Agora, porém, a mídia
se uniu
para socorrer os golpistas.
O discurso único parece combinado. Todos os veículos
criticam o Mercosul e a Unasul pela suspensão dos golpistas do Paraguai. A
pressão maior é contra a presidenta Dilma Rousseff. A mesma mídia que sempre exigiu
posições rápidas e duras contra o Irã, a Síria e outras nações contrárias à política
expansionista dos EUA, agora pedem que o governo brasileiro “respeite a
autonomia” do país vizinho. Na prática, a mídia colonizada recomenda a “neutralidade”
para salvar os golpistas do isolamento na América Latina.
Itamaraty deve "calar-se"
O editorial de hoje da Folha, intitulado “Paraguai soberano”,
é explícito neste sentido. “Apesar de cercear o direito de defesa,
impeachment do presidente foi constitucional; é abuso dos países
vizinhos
pretender impor sanções”, afirma logo na abertura. O jornal da famiglia
Frias,
que apoiou o golpe no Brasil, não esconde sua oposição ao presidente
deposto do Paraguai. “Eleito numa plataforma esquerdizante, o ex-bispo
católico
Fernando Lugo conduzia um governo populista e errático”.
Para o jornal, a afinidade ideológica – e não a defesa da
democracia – é que explica a posição “injustificável” do Mercosul de punir os
golpistas. A Folha faz um apelo à presidenta Dilma para que não reforce esta
postura. “Com um triste histórico de ingerência na política interna do
Paraguai, país que mantém laços de dependência econômica em relação ao Brasil,
o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do
vizinho”. Ela repete o apelo do golpista Federico Franco e do governo dos EUA.
A mesma posição foi assumida pelos jornais O Globo e
Estadão. Eles exigem que o governo Dilma respeite a “soberania do Paraguai” e não “fique
a reboque de Chávez” – como afirmou o ridículo Merval Pereira. O argumento para defender a “neutralidade” é que os
golpistas seguiram a Constituição no rito sumário do impeachment. Como lembra o
filósofo Vladimir Safatle, este foi o mesmo argumento usado pela imprensa
golpista no Brasil.
“Até o golpe de Estado brasileiro (1964) foi feito ‘legalmente’,
já que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vacante a
Presidência por Goulart ter ‘abandonado’ o governo ao procurar abrigo no RS,
tomando posse o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. O que demonstra como
nem sempre estamos protegidos pelas leis”.
Sintonia Fina
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