Como os leopardos não perdem as pintas, o jornal O Globo deu enorme destaque às sandices (vide íntegra aqui)
de um dos militares insubmissos empenhados em intimidar a Comissão da
Verdade, ministros, a presidente, os Poderes Executivo e Legislativo: o
general Luiz Eduardo Rocha Paiva (foto), que chefiou a Escola de Comando
do Estado-Maior e foi secretário-geral do Exército.
Lá pelas tantas, ele indaga, sobre a presidente Dilma Rousseff:
"Ela era da VAR-Palmares. E a VAR-Palmares foi a que lançou o carro-bomba que matou o soldado Mario Kozel Filho. Ela era da parte de apoio. Será que ela participou do apoio a essa operação? A comissão da Verdade não vai chamá-la, por quê?"
Respondo eu: porque a VAR-Palmares nada teve a ver com tal ação, uma vez que... nem sequer existia em julho de 1968.
Quem soltou um carro-bomba ladeira abaixo na direção do QG do Exército, sem nem de longe imaginar que um sentinela pudesse abandonar o posto e aproximar-se do suspeitíssimo veículo sem motorista, foi a VPR --a qual considerou depois um grave erro ter respondido desta forma à bazófia do comandante do II Exército que, pela imprensa, desafiou os "terroristas" a virem enfrentá-lo "como homens" no seu quartel.
Naquele ano Dilma militava no Colina, que não atuava em São Paulo nem mantinha qualquer esquema de cooperação com a VPR.
Quem soltou um carro-bomba ladeira abaixo na direção do QG do Exército, sem nem de longe imaginar que um sentinela pudesse abandonar o posto e aproximar-se do suspeitíssimo veículo sem motorista, foi a VPR --a qual considerou depois um grave erro ter respondido desta forma à bazófia do comandante do II Exército que, pela imprensa, desafiou os "terroristas" a virem enfrentá-lo "como homens" no seu quartel.
Naquele ano Dilma militava no Colina, que não atuava em São Paulo nem mantinha qualquer esquema de cooperação com a VPR.
Foi
só no Congresso de Mongaguá, em abril de 1969, que a VPR decidiu manter
entendimentos com o Colina e com a ALN, visando a uma possível
somatória de forças.
Como sei? Simples: estava lá.
Participei como convidado, representando meu grupo de secundaristas que,
no final do congresso, foi oficialmente admitido na VPR.
As negociações com a ALN não frutificaram, mas a fusão com o Colina acabou acontecendo, em junho de 1969. Foi quando nasceu a VAR-Palmares.
Ou seja, o generalão
insubordinado pretende que uma presidente da República seja convocada
para depor sobre algo do qual só tomou conhecimento por ter lido e
ouvido falar. Brilhante!
De quebra, o general perguntou à entrevistadora se ela ela estava certa de que Dilma havia sido torturada:
"Ela diz que foi submetida a torturas. A senhora tem certeza?"
Respondo
eu, de novo: como a tortura era generalizada, atingindo dirigentes,
militantes, aliados e até simpatizantes (o número de torturados
ultrapassou 20 mil) , a única hipótese de uma comandante deixar de
sofrer os piores suplícios seria ela ter colaborado com o inimigo.
Mas, disto os verdugos jamais
ousaram acusar Dilma. Até a ignomínia tem limite. Então, não faz sentido
nenhum Rocha Paiva colocar em dúvida suas afirmações.
Os mentirosos são os de sempre, aqueles que esperneiam contra a Comissão da Verdade por saberem que sairão muito mal na foto.
QUEM DISSE QUE VLADIMIR HERZOG FOI MORTO PELOS
AGENTES DO ESTADO? TODOS, INCLUSIVE A JUSTIÇA...
Rocha
Paiva questionou também a convicção nacional de que o jornalista
Vladimir Herzog morreu sob torturas ("E quem disse que ele foi morto
pelos agentes do Estado? Nisso há controvérsias. Ninguém pode afirmar").
A esta infamia quem responde é o Instituto Vladimir Herzog (vide íntegra aqui):
"Como se alguém que se apresentara para depor não estivesse sob a guarda e a responsabilidade do Estado e de seus agentes. Como se assegurar a integridade física e a própria vida de um depoente, qualquer depoente, não fosse obrigação oficial fundamental do Estado e de seus agentes, a quem ele se apresentara. Como se a Justiça do Brasil já não houvesse reconhecido oficialmente, há 33 anos, em decorrência de processo movido pela viúva Clarice Herzog e seus filhos, que Vladimir Herzog foi preso, torturado e assassinado nos porões da ditadura, por agentes do Estado.
Além de tudo isso, posteriormente, em julgamento proferido no âmbito da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei nº 9.140/96, o próprio Estado brasileiro ratificou o reconhecimento dessa prisão ilegal, tortura e morte".
Sintonia Fina
-Náufrago da Utopia
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