Estou em Washington desde domingo, visitando os think tanks da cidade
e fazendo entrevistas para minha pesquisa sobre democracia e política
externa. O que vejo nos círculos políticos da capital americana é uma
atitude contraditória com relação ao Brasil: apreciação pelo novo status
internacional do país, acompanhada pela insatisfação e perplexidade
quando as ações brasileiras refletem essa nova situação, como nos
esforços de mediação no Oriente Médio ou na busca de políticas
econômicas autônomas.
Há uma curiosa obssessão com detalhes simbólicos e
protocolares, como bom entrosamento pessoal entre os presidentes de
ambas as nações, o que ilustra certa dificuldade em analisar o cerne da
agenda diplomática.
Na primeira metade do século XX, Brasil e Estados Unidos tiveram
relações muito próximas, uma "aliança não-escrita" ou mesmo um pacto
formal, como na Segunda Guerra Mundial. Esse entendimento era calcado na
economia (o mercado americano era o maior para os produtos brasileiros)
e numa barganha eficaz pela qual o governo brasileiro apoiava a
liderança internacional dos Estados Unidos em troca do auxílio americano
para as ambições do Brasil na América do Sul - então bem modestas e
centrada na definição das fronteiras e na manutenção de um vantajoso
equilíbrio de poder diante da Argentina.
O modelo da relação especial começou a ser questionado com força na década de 1950 e não há sinais de que tão cedo ele voltará a ter vigência. Vários fatores explicam a guinada brasileira em busca de uma política externa mais diversificada: o aprofundamento do desenvolvimento e do comércio exterior, o relativo desinteresse americano no Brasil diante dos grandes conflitos da Guerra Fria na Europa e na Ásia e contenciosos em vários temas, complicados pelos novos e mais amplos interesses brasileiros.
Ouvi aqui em Washington que o governo Obama não trata o Brasil como uma grande potência, ao contrário do que faz, por exemplo, com a Índia. As razões são evidentes: os americanos precisam dos indianos para (tentar) equilibrar o jogo com a China e o poder militar da Índia é crescente, e inclui armas nucleares. As dimensões da importância do Brasil são outras: a força de sua economia e seu papel de moderador de crises na América do Sul, uma região secundária para os Estados Unidos. A Bolívia não é o Afeganistão e a Venezuela não é o Irã, nem nos dias de mau humor de Chávez.
Não é a melhor base para uma "relação especial", mas é campo sólido para construir uma boa agenda diplomática, contanto que mais ajustada a expectativas reduzidas. Ambições exageradas e estereótipos mútuos há muito prejudicam o entendimento entre Brasil e Estados Unidos.
O modelo da relação especial começou a ser questionado com força na década de 1950 e não há sinais de que tão cedo ele voltará a ter vigência. Vários fatores explicam a guinada brasileira em busca de uma política externa mais diversificada: o aprofundamento do desenvolvimento e do comércio exterior, o relativo desinteresse americano no Brasil diante dos grandes conflitos da Guerra Fria na Europa e na Ásia e contenciosos em vários temas, complicados pelos novos e mais amplos interesses brasileiros.
Ouvi aqui em Washington que o governo Obama não trata o Brasil como uma grande potência, ao contrário do que faz, por exemplo, com a Índia. As razões são evidentes: os americanos precisam dos indianos para (tentar) equilibrar o jogo com a China e o poder militar da Índia é crescente, e inclui armas nucleares. As dimensões da importância do Brasil são outras: a força de sua economia e seu papel de moderador de crises na América do Sul, uma região secundária para os Estados Unidos. A Bolívia não é o Afeganistão e a Venezuela não é o Irã, nem nos dias de mau humor de Chávez.
Não é a melhor base para uma "relação especial", mas é campo sólido para construir uma boa agenda diplomática, contanto que mais ajustada a expectativas reduzidas. Ambições exageradas e estereótipos mútuos há muito prejudicam o entendimento entre Brasil e Estados Unidos.
Sintonia Fina
- Todos os Fogos o Fogo
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