16 de mar. de 2012

O Brasil Visto de Washington: a Eterna Busca da "Relação Especial"

Veja aqui o que o Partido da Imprensa Golpista (PIG) não mostra!



 
 
Estou em Washington desde domingo, visitando os think tanks da cidade e fazendo entrevistas para minha pesquisa sobre democracia e política externa. O que vejo nos círculos políticos da capital americana é uma atitude contraditória com relação ao Brasil: apreciação pelo novo status internacional do país, acompanhada pela insatisfação e perplexidade quando as ações brasileiras refletem essa nova situação, como nos esforços de mediação no Oriente Médio ou na busca de políticas econômicas autônomas. 
 
Há uma curiosa obssessão com detalhes simbólicos e protocolares, como bom entrosamento pessoal entre os presidentes de ambas as nações, o que ilustra certa dificuldade em analisar o cerne da agenda diplomática. 
 
  Na primeira metade do século XX, Brasil e Estados Unidos tiveram relações muito próximas, uma "aliança não-escrita" ou mesmo um pacto formal, como na Segunda Guerra Mundial. Esse entendimento era calcado na economia (o mercado americano era o maior para os produtos brasileiros) e numa barganha eficaz pela qual o governo brasileiro apoiava a liderança internacional dos Estados Unidos em troca do auxílio americano para as ambições do Brasil na América do Sul - então bem modestas e centrada na definição das fronteiras e na manutenção de um vantajoso equilíbrio de poder diante da Argentina.

O modelo da relação especial começou a ser questionado com força na década de 1950 e não há sinais de que tão cedo ele voltará a ter vigência. Vários fatores explicam a guinada brasileira em busca de uma política externa mais diversificada: o aprofundamento do desenvolvimento e do comércio exterior, o relativo desinteresse americano no Brasil diante dos grandes conflitos da Guerra Fria na Europa e na Ásia e contenciosos em vários temas, complicados pelos novos e mais amplos interesses brasileiros.

Ouvi aqui em Washington que o governo Obama não trata o Brasil como uma grande potência, ao contrário do que faz, por exemplo, com a Índia. As razões são evidentes: os americanos precisam dos indianos para (tentar) equilibrar o jogo com a China e o poder militar da Índia é crescente, e inclui armas nucleares. As dimensões da importância do Brasil são outras: a força de sua economia e seu papel de moderador de crises na América do Sul, uma região secundária para os Estados Unidos. A Bolívia não é o Afeganistão e a Venezuela não é o Irã, nem nos dias de mau humor de Chávez.

Não é a melhor base para uma "relação especial", mas é campo sólido para construir uma boa agenda diplomática, contanto que mais ajustada a expectativas reduzidas. Ambições exageradas e estereótipos mútuos há muito prejudicam o entendimento entre Brasil e Estados Unidos.


Sintonia Fina
- Todos os Fogos o Fogo

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