A greve dos policiais militares da
Bahia é um monstro criado, essencialmente, pelo Congresso Brasileiro. O
bicho nasceu e cresceu a partir das anistias concedidas a movimentos
iguais ou semelhantes, deflagrados por bombeiros e policiais militares
nos últimos anos, em todo o Brasil.
Anthony Garotinho é bem-sucedido nesta específica conquista de votos.
Foto: Rodolfo Stuckert
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Um
exemplo. Gravações judicialmente autorizadas flagraram políticos do Rio
de Janeiro incentivando os PMs baianos à rebeldia. Um dos
interlocutores dos policiais acantonados na Assembleia Legislativa, em
Salvador, foi o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. Ele
esteve envolvido na greve dos bombeiros cariocas e trabalhou pela
anistia na Câmara. Foi bem-sucedido.
Invariavelmente, os recentes movimentos grevistas das PMs apresentam como primeiro item da pauta de negociações a anistia.
A
presidenta Dilma já se declarou contra essa possibilidade. O governador
da Bahia, Jaques Wagner, também já disse não. Ele tem a prerrogativa da
anistia administrativa. Mas como reagirão os parlamentares em ano de
eleições municipais?
No caso de
agora há um importante diferencial, aparentemente técnico, mas de
profunda gravidade política e social. A greve deixou de ser motim e
tornou-se uma revolta pelo fato de alguns dos grevistas empunharem armas
de fogo. Não importa, perante a lei, que não tenham disparado.
O caso é
grave.
A motivação inicial dos
grevistas é o aumento salarial, atiçado principalmente pela PEC 300, uma
emenda constitucional, apresentada há três anos, que acabaria com as
distorções entre as forças policiais. O objeto de desejo de todos eles é
a tabela salarial com o soldo dos PMs de Brasília (tabela). Ela deixa
transparente a desigualdade salarial. Na capital, o policial militar
recebe do governo federal e em vários casos o soldo ultrapassa o do
Exército.
Comparativo: o salário dos oficiais da PM no DF |
Sufocar
a revolta na Bahia não resolve o problema. Há indícios de greve em
vários outros estados. Parece ser um movimento articulado. E é.
O
debate em torno do veto constitucional quanto à greve de policiais
militares, ou mesmo alertar para o fato de que o uso das Forças Armadas
da forma que tem sido feita, é também inconstitucional e mantém o
problema na superfície do problema.
A
prática dos governos estaduais de entregar a arma e o distintivo a um
policial e oferecer a ele um soldo miserável no fim do mês para
enfrentar a violência das ruas chegou ao fim. Não dá mais.
É
preciso entender que o problema da polícia vai além de um caso de
polícia. Se não for enfrentado assim, vai persistir. E, fatalmente,
piorar.
Sintonia Fina
Mauricio Dias
No CartaCapital
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