Dossiê Pinheirinho vai à OEA
Saiu na
Rede Brasil Atual:
Dossiê do Pinheirinho denuncia ação policial e judicial
Deputados paulistas vão entregar documento que relata abusos ao Conselho Nacional de Justiça e à OEA
Por: Letícia Cruz, Rede Brasil Atual
A Comissão de Direitos Humanos
da Assembleia Legislativa de São Paulo vai entregar ao Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) um dossiê com denúncias do abuso policial ocorrido no
Pinheirinho, em São José dos Campos, em 22 de janeiro, durante a
reintegração de posse do terreno que favoreceu o investidor Naji Nahas. O
dossiê foi apresentado em audiência pública na tarde desta quarta-feira
(1º). O objetivo é que também haja investigação da ação judicial que
permitiu a reintegração de posse.
O mesmo documento será entregue
à Organização dos Estados Americanos (OEA), denunciando o governo do
estado e a prefeitura de São José, que comandaram a operação. Um grande
ato está sendo organizado para esta quinta (2), na cidade do interior
paulista, no Vale do Paraíba, a 97 quilômetros da capital. Movimentos e
ex-moradores pedem a desapropriação do terreno.
O suporte jurídico dado ao caso
foi um dos principais pontos discutidos na audiência, que contou com a
presença dos parlamentares da casa, militantes de partidos como PT, Psol
e PSTU, sindicatos, movimentos sociais e ex-moradores do Pinheirinho. O
público, que lotou o auditório, fazia intervenções com cartazes e
gritos. “O governador do estado e o prefeito de São José dos Campos
(Geraldo Alckmin e Eduardo Cury, ambos do PSDB) permitiram que
acontecesse este massacre. Mas, sobretudo, o Tribunal de Justiça do
estado, que deu todo o suporte jurídico”, reclamou o deputado estadual
Carlos Giannazi (Psol).
A decisão da juíza Marcia
Loureiro passou por cima de liminar da Justiça Federal que suspendia a
ação de reintegração por 15 dias. “Não podemos deixar de denunciá-la”,
ressaltou Giannazi. A audiência pública já havia sido marcada antes da
desocupação. Acreditava-se que um acordo estaria próximo de acontecer,
uma vez que deputados estaduais, senadores e governo federal articulavam
uma solução sem confrontos. O juiz auxiliar do TJ Rodrigo Capez cassou
as liminares dos movimentos sociais.
Entre os relatos ouvidos, a
repórter da Rádio Brasil Atual Lúcia Rodrigues contou o que presenciou
no Pinheirinho. Ela acompanhou o caso desde o início e foi alvo de dois
tiros disparados por um integrante da Guarda Civil de São José, que por
pouco não lhe tiraram a vida. “Eu vi e sei, eles não estavam só com
armas de bala de borracha, estavam com armas letais sim”, garantiu
Lúcia. Ela afirmou que irá processar a prefeitura da cidade por permitir
o uso de armas de fogo por profissionais despreparados. “Foi uma coisa
combinada entre o governo estadual, prefeitura e justiça”, acusou.
O deputado estadual Adriano
Diogo (PT) comparou os abrigos oferecidos pela prefeitura da cidade a
campos de concentração. Após a desocupação, os moradores foram
distribuídos entre quatro abrigos improvisados em galpões, escolas e
ginásio poliesportivo. “São situações inumanas às quais aquelas pessoas
estão sendo submetidas”, disse. Os ex-moradores são obrigados a andar
com uma pulseira de identificação. Para receber o auxílio aluguel de R$
500 anunciado na terça-feira (31) pela prefeitura, terão de ficar
confinados nos abrigos.
A questão poderá ser tratada
também na Câmara dos Deputados. O deputado federal Ivan Valente (PT-SP)
afirmou que irá entrar com pedido de audiência pública na Comissão de
Direitos Humanos.
Revista
Um grupo de ex-moradores do
Pinheirinho foi revistado pela Polícia Militar na entrada da Assembleia.
Segundo o deputado Giannazi, a ordem para a revista partiu do
presidente da Casa, deputado Barros Munhoz (PSDB). “É uma questão que
levaremos para discutir com toda a certeza ao Colégio de Líderes”,
frisou.
“Por acaso a polícia revista
empresários quando visitam aqui? Não. Então não podem fazer esse tipo de
coisa”, disse Giannazi. Com o auditório lotado, as pessoas tiveram de
acompanhar o debate do lado de fora.
Durante audiência, o deputado
Adriano Diogo, que presidia a mesa, interrompeu sua fala para pedir aos
policiais que vigiavam a entrada que liberassem o acesso das pessoas à
galeria do auditório. “Já basta o massacre que vocês fizeram no
Pinheirinho, não continuem insistindo no erro”, disse, aplaudido pela
plateia.
Procurados, os PMs afirmaram que a revista é um procedimento padrão.
Sintonia Fina
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