Já
não é mais uma escalada autoritária o que se vê na Universidade de São
Paulo: agora se trata de um processo de fascistização plenamente
configurado, cada vez mais agressivo e de consequências imprevisíveis.
As ocupações militares da USP e
da cracolândia são as duas faces da mesma moeda: a tentativa de
reabilitarem o recurso abusivo à força como solução para tudo e
dissuasivo a ser empregado contra todos.
Não foi por acaso que um
herdeiro espiritual da ditadura militar completou a chapa de José Serra
na última eleição presidencial. Nem é por acaso que a identidade
política do novo governo de Geraldo Alckmin esteja sendo dada... pela
Polícia Militar!
Como nos antecedentes da última
quartelada, a oposição começa a rondar as portas de quartéis. Três
derrotas acachapantes e a possibilidade de uma quarta em 2014 estão
enlouquecendo os tucanos, que cada vez mais se transformam em corvos.
Se não reagirmos de imediato e
com máxima firmeza, as consequências, adiante, serão as mais nefastas. O
ovo da serpente já eclodiu, mas ainda estamos em tempo de esmagar o
réptil.
DA HORDA DE INVASORES DO SERRA
À TROPA DE OCUPAÇÃO DO ALCKMIN
Na USP, o quadro veio se
agravando ano a ano, mês a mês, dia a dia, até chegar-se ao quadro
atual, que é assustador. O reinício das aulas ocorrerá sob os piores
augúrios..
Em 2007 (vejam aqui),
o ex-governador José Serra tentou impor-lhe quatro decretos
autoritários e foi obrigado a recuar pela vigorosa defesa da autonomia
universitária por parte de estudantes, professores e funcionários.
Atentado ao Riocentro, em 1981: o feitiço virou contra o feiticeiro |
A gestão de Serra foi também marcada pela volta da repressão mais brutal contra manifestantes e pela permissão para invadir e agredir, concedida a contingentes policiais extremamente identificados com a ditadura de 1964/85. É patético que, ex-presidente da UNE, ele tenha agido exatamente como os inimigos que então o perseguiam e por causa dos quais teve de procurar o exílio.
Como legado, Serra deixou a USP entregue a quem os membros do Conselho Universitário e dos Conselhos Centrais não queriam como reitor, tanto que o preteriram na lista tríplice, por saberem muito bem que lhe faltavam méritos acadêmicos e sobravam convicções ultradireitistas: João Grandino Rodas. Desde o notório Paulo Maluf, nenhum governador de São Paulo afrontava a posição dos Conselhos, deixando de escolher o primeiro colocado da lista.
Tido como integrante da
medievalista e anticomunista Sociedade Brasileira de Defesa da
Tradição, Família e Propriedade, Rodas desconversou ao ser indagado
sobre isto numa entrevista. Foi membro da Comissão de Mortos e
Desaparecidos Políticos, quando conseguiu encontrar pretextos até para
negar a responsabilidade dos carrascos da ditadura em casos notórios e
indiscutíveis como os de Stuart Angel e Edson Souto. E, ao dirigir a
Faculdade de Direito da USP, requereu o assalto da Polícia Militar
àquela unidade e perseguiu de forma tão atrabiliária seus desafetos que
acabou sendo declarado persona non grata pelos acadêmicos.
Coerentemente, Rodas aproveitou
a primeira chance que teve (o assalto e morte de um estudante) para
completar a obra de Serra, concedendo à PM, desta vez, permissão para ocupar e provocar.
A sucessão de intimidações e
humilhações a que a tropa de ocupação submeteu os universitários causou
uma revolta espontânea contra a PM, seguida de mais repressão, mais
abusos de poder e mais reincidências nas práticas ditatoriais: em
dezembro foi o famigerado decreto 477 que se reeditou na prática, ao
expulsarem-se sumariamente seis estudantes.
E, como o terrorismo oficial
vem sempre acompanhado do oficioso, ecos do frustrado atentado ao
Riocentro ressoam na denúncia do Sindicato dos Trabalhadores da USP, de
que acaba de ocorrer uma "criminosa tentativa de sabotagem no
Sintusp": quando os funcionários chegaram para trabalhar no dia 12,
encontraram pastas e documentos revirados e todos os botões do fogão
industrial abertos, sem que tivessem sido violados os cadeados de
entrada nem as fechaduras das portas que dão acesso à entidade e salas
internas.
Funcionários e estudantes se
recordam de terem visto, na véspera, vigilantes da empresa Evik e
policiais à paisana rondando o sindicato.
SNI DO RODAS ESPIONA ATÉ OS
DIRETORES DE UNIDADES DA USP
Em sua nota, o Sintusp destaca que a ação terrorista ocorreu na sequência dos seguintes episódios recentes:
- dia 6 - uma estudante grávida foi agredida por integrantes da Guarda Universitária na presença de PM's;
- dia 9 - diretores do Sintusp discutiram com guardas universitários e PM's, ao defenderem o estudante Nicolas Menezes Barreto da agressão do sargento André Ferreira;
- dia 9 – a revista Fórum publica (veja aqui) relatórios da espionagem a que estão sendo submetidos sindicalistas, professores, estudantes e até diretores de unidades da USP (o que, por si só, já é motivo mais do que suficiente para Rodas ser afastado do cargo).
Termina assim a nota da diretoria colegiada plena do Sintusp sobre o ato terrorista:
"Este é o último capitulo de uma tragédia anunciada pela assinatura de um convênio que perpetua a PM em nossa universidade, como parte de uma verdadeira ofensiva repressiva feita por parte da reitoria e do governo, que se dá através de processos administrativos, criminais e ações de espionagem contra os diretores e ativistas do sindicato e estudantes que lutam em defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
Assim, denunciamos esta criminosa atitude de ataque ao Sintusp e responsabilizamos a reitoria e o governo pela integridade física de todos.
Finalmente, pedimos as entidades sindicais, populares, estudantis, intelectuais e parlamentares a manifestarem repudio a mais essa ação criminosa e devida apuração dos fatos, conseqüentemente, a responsabilização de seus autores".
Sintonia Fina
- Náufrago da Utopia
Nenhum comentário:
Postar um comentário