Para o deputado autor do pedido de CPI da Privataria, Serra
desrespeita o Congresso e deve explicações por "expedientes criminosos".
Parlamentar diz que Aécio Neves o parabenizou pelo pedido de
investigação
São Paulo – O deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) disse nesta quarta (11) que é gesto de “desespero” a crítica de José Serra (PSDB) à CPI da Privataria. Na véspera, o ex-governador paulista Serra classificou de “palhaçada” a eventual instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito, pedida por Protógenes, para investigar privatizações de estatais durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
O
deputado lembrou que as assinaturas colhidas para a abertura da
comissão foram protocoladas em dezembro, com o apoio de 185
parlamentares – 14 a mais do que o mínimo exigido pela Constituição. “Na
primeira semana de fevereiro vamos saber a tramitação que o presidente
da Casa, Marco Maia (PT-RS), dará ao pedido. Mas será instalada”,
acredita. Ele antecipou que logo após o carnaval os trabalhos da CPI já
devem se iniciar.
A investigação
decorre do livro A Privataria Tucana, do jornalista mineiro Amaury
Ribeiro Jr., que apresenta documentos e indícios de um esquema
bilionário de fraudes no processo de privatização de estatais na década
de 1990. Serra era o ministro do Planejamento, gestor do processo. Com
documentos, o jornalista acusa o ex-caixa de campanha do PSDB e
ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de
Oliveira de ter atuado como "artesão" da construção de consórcios de
privatização em troca de propinas.
Questionado
sobre as acusações contidas no livro, Serra primeiro chamou o conteúdo
de “lixo”, depois chegou a desqualificar a CPI: "Isso é tudo uma
palhaçada, porque eu tenho cara de palhaço, nariz de palhaço, só pode
ser palhaço".
Protógenes viu na
atitude de Serra um desrespeito ao trabalho parlamentar de investigação.
“Ele está se referindo à CPI de uma forma jocosa, em um tom de
brincadeira. Eu considero que essa reação dele é um grito de desespero,
bastante desrespeitoso.”
Para o
parlamentar, o trabalho obscuro de pessoas próximas a Serra, desvendado
por Ribeiro causou estranhamento nos próprios integrantes de seu
partido, o PSDB. “Causou uma guerra interna. O próprio ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso fala, sem externar publicamente, que também se
surpreendeu”, afirmou. Ele ainda relatou que o senador mineiro Aécio
Neves (PSDB) o parabenizou pela iniciativa da CPI.
Confira a entrevista:
Rede Brasil Atual: Como está a tramitação da CPI?
Protógenes
Queiroz: A CPI ja foi protocolada e agora segue um rito regimental.
Logo na primeira semana de fevereiro vamos saber a tramitação que o
presidente da Casa, Marco Maia, deu. Mas será instalada – logo depois do
carnaval.
Qual foi a sua impressão do livro A Privataria Tucana?
O
livro traz vários fatos inéditos, não é uma reedição de fatos que já
haviam sido publicados, pelo contrário. Ele se tornou mais que um livro,
um documento que cruza com investigações da Polícia Federal, inclusive
algumas que eu mesmo coordenei. O fato é que para o próprio PSDB tudo
isso também foi uma surpresa, por isso que também houve a assinatura de
vários parlamentares tucanos. É como aquela história do marido traído,
que é sempre o último a saber e por terceiros.
Isso produziu alguma crise no PSDB?
Causou
uma guerra interna. O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
fala, sem externar publicamente, que também se surpreendeu, quer dizer,
já colocando a posição de surpresa e neutralidade naquilo que o Serra
liderou, nas privatizações.
Algum outro tucano falou alguma coisa?
No dia em que entreguei a CPI, o Aécio Neves me abraçou, me dando os parabéns.
Qual deveria ser a posição do Serra neste momento?
O
Serra deve explicações ao Brasil. Não somente ele, mas também quem
estiver ligado a ele, como o Ricardo Sérgio, o grande operador do PSDB.
Será que ele foi o operador de todo o PSDB ou só do grupo e da família
Serra? Mas é o Serra que deve dar as explicações mais detalhadas, ele é o
sujeito que se servia de expedientes criminosos.
Ele chegou a classificar a CPI da Privataria de palhaçada.
Ele
foi um governador, como ele pode se expressar dessa forma? Ele está
desrespeitando o Congresso Nacional e a vontade popular. Mas essa é uma
expressão pela qual ele está acostumado, do próprio meio dele. Não é a
expressão conveniente para um instrumento sério de investigação do
Parlamento brasileiro, nem a expressão dos parlamentares que assinaram a
CPI.
Por que acha que ele falou isso?
Ele
está se referindo à CPI de uma forma jocosa, em um tom de brincadeira.
Eu considero que essa reação dele é um grito de desespero, bastante
desrespeitoso.
Como você enxerga que será o trabalho da CPI?
Nós
vamos ter de ver se aqueles documentos do Amaury são verdadeiros ou
não, e caso se confirmem vamos encontrar um foco de investigação e
aprofundar.
O Serra será um dos convocados?
Com certeza.
A CPI poderia comprometer o futuro do Serra?
Em
política tudo é possível. Depois que eu prendi o Paulo Maluf por 40
dias e ele foi eleito deputado federal, então tudo é possível. (Antes de
seguir carreira política, Protógenes foi delegado da Polícia Federal e
atuou em investigações de crimes de colarinho branco.)
Sintonia Fina - Raoni Scandiuzzi
Com Texto Livre
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
(Cláudio Abramo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário