O ano de 2012 oferece ao eleitor
brasileiro, ao eleitor paulista e ao paulistano em particular, a
excelente oportunidade de iniciar uma providencial e necessária faxina
no governo da cidade de São Paulo, e em 2014 no Palácio dos
Bandeirantes, desalojando a gestão incompetente moradora há quase vinte
anos no Palácio dos Bandeirantes e oito anos na cidade. Senão vejamos.
Confrontada
com a sua indigência programática e com as sucessivas derrotas
eleitorais nos últimos dez anos no plano federal, a atual oposição
brasileira, aquela que majoritariamente se abriga sob as siglas do PSDB,
DEM, PPS e agora do noviço PSD, cuja hipócrita defesa da alternância do
poder não leva em consideração quando se trata de seus próprios
interesses, tem que ser derrotada no Estado de São Paulo, sob o risco de
o estado continuar a servir de estorvo ao espírito progressista
assumido pelo país nos últimos anos. Tanto na capital em 2012, como no
governo estadual em 2014.
E por
quê? Pela simples razão de que essa oposição representa um perigo para o
modelo desenvolvimentista brasileiro, para a soberania do país e para a
própria democracia.
Começaria aí
o verdadeiro sentido da faxina, quer do ponto de vista da alternância
do poder, como tanto defendem em nível federal, quer do ponto de vista
ético, com o desmonte de uma engrenagem viciada, com a limpeza das
inúmeras falcatruas domésticas no estado, quando dezenas de CPIs são
engavetadas na assembléia estadual e ignoradas pela mídia e que fariam
destampar de vez o caldeirão do cinismo e da hipocrisia daqueles que já
não têm alternativas a oferecer ao novo Brasil, a não ser as da sua
própria incompetência.
Como
afirmou o jornalista Mino Carta em recente simpósio em Salvador, “São
Paulo é o estado mais reacionário da federação”. Sempre foi, aliás. Não
há aqui o que contestar. Desde as famosas marchas em 1964 para não irmos
mais atrás à História pátria, São Paulo continua sendo o depositário
maior do espírito da Casa Grande em detrimento da Senzala. Provas da
afirmação do jornalista, a qual endosso, vão se acumulando no dia a dia
da política brasileira, ganhando patamares perigosos para o próprio
exercício da democracia, repito, mesmo que ainda incipiente e tutelada,
após os anos de ditadura.
É em
São Paulo que se localiza o quartel general da direita brasileira,
aquela que representa de fato o atraso, a submissão a interesses
estrangeiros, aquela que não perde a sua formação aculturada, o seu
preconceito contra pobres, negros e nordestinos, por exemplo, aquela que
morde o próprio cotovelo de inveja ao não querer reconhecer que um
metalúrgico sem diploma universitário, sem plumas e paetês, tirou o país
da condição de devedor passando-o a emprestador internacional. Oposição
no mais puro estilo quinta coluna.
É
em São Paulo também que se localiza o centro mais reacionário da mídia
corporativa que diariamente apostou suas fichas contra o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante oito anos e agora continua a
apostar contra o governo da presidenta Dilma Roussef na esperança de
que possa encontrar motivos políticos para enfraquecê-la e preparar o
terreno onde, numa eventual regresso ao governo federal, façam o Brasil
voltar ao mercado de negócios e interesse escusos em que transformaram o
país enquanto governaram, bem como o Estado de São Paulo que governam
há anos e agora a capital do estado.
Tal
qual na mitologia grega, o eleitor paulista entre outros tem que fazer
um dos trabalhos de Hércules e ir cortando as cabeças da Hidra, tantos
anos ignorada, e que insiste em renascer sob novos disfarces. Uma dessas
cabeças, talvez a mais perigosa, reúne jornais, revistas e emissoras de
televisão. Seu centro criativo e ideológico está em São Paulo, onde
editoriais e jornalistas de aluguel destilam seus preconceitos
ideológicos e sociais com o apoio do setor rentista, de grandes agências
de publicidade, bancos, latifúndios muitos deles grilados, sucursais de
empresas multinacionais, cujos interesses defendem sem qualquer
escrúpulo e com a aceitação a conivência de grandes setores de uma
classe média para fascista.
A
promiscuidade desses atores do espectro econômico com seus
representantes nas câmeras de vereadores, assembleias estaduais e
principalmente em Brasília, através de lobbies com polpudas verbas nos
bolsos vai, a cada ano que passa, transformando São Paulo numa peça cada
vez mais encardida e rançosa no mapa político do país nesse início de
século XXI, com o arcabouço administrativo da cidade e do estado
engessado pela concepção econômica neoliberal e pela mesmice de quadros
políticos que têm um olho político em nosso passado ditatorial e outro,
econômico, na possibilidade de amealhar grandes fortunas no uso de
tecnologias do futuro e não só, num jogo que beneficia os governantes de
plantão e os seus apaniguados mais próximos.
Nesse
audacioso jogo de assalto ao patrimônio público, onde o exercício da
política quase que anula a procura pelo bem estar da coletividade, não é
difícil enxergar, cada vez com maior nitidez os fios trançados entre os
já nem tanto obscuros interesses econômicos e políticos da imprensa das
quatro famiglias (Marinhos, Civitas, Mesquitas e Frias), onde não se
descarta sempre a possibilidade de um hipotético, mas não de todo
imprevisível golpe de estado, não aquele tradicional com soldados na
rua, fechamento do Congresso, toques de recolher, etc., mas um golpe
que, sob certo aspecto, é mais perverso: o da desinformação, quando não
da repetição pura e simples de uma suposição, de uma acusação
irresponsável ou mesmo de uma mentira.
Nesse
aspecto, o impressionante e minucioso relato contido no livro
PRIVATARIA TUCANA do jornalista Amaury Ribeiro Jr. não deixa dúvidas
quanto à necessidade do eleitor paulista e paulistano darem início
àquela que seria a verdadeira e necessária faxina para que o país
iniciasse nova jornada de recuperação ética. Arrumar a casa em São Paulo
e dar o exemplo para o resto do país, pois o denuncismo seletivo e
irresponsável que emana de certas redações paulistas recebeu agora um
duro golpe, pois aqui não se trata de denúncia sem provas.
São
tantas as denúncias de práticas criminosas nos anos 90 que fica difícil
escolher qual a mais impressionante. Contudo, é curioso ver que os
principais beneficiários, econômicos e políticos, são paulistas, o que
não vem a ser exatamente uma coincidência, mas um jogo perverso pela
manutenção do poder político, e o pior deles: o poder de assaltar o
patrimônio público.
No meu
entender, o eleitor paulista e paulistano têm o dever de fazer uma
assepsia ética e política das mais rigorosas, desinfetando o Palácio dos
Bandeirantes e a Prefeitura da Capital e devolvendo o Estado de São
Paulo ao leito do novo país que começa a se erguer na América Latina e
no mundo. Não se trata de comparar corrupções onde as houver, mas de
combatê-las com o rigor da lei quando provadas.
E
provas não faltam na PRIVATARIA TUCANA, provavelmente a mãe de todas as
corrupções entre nós nos últimos anos pós ditadura. Nada mal que se
pense numa CPI da Privataria, pois além dela convocar – com toda certeza
– a juízo público os principais personagens da dilapidação de grande
fatia da riqueza nacional para que expliquem o que fizeram, é muito
provável que surjam sólidos motivos jurídicos para se pensar em uma ação
de recuperação para o Estado de uma empresa como a VALE, por exemplo.
Isso sem falar na necessidade de se estabelecer maior rigor na defesa de
nossa soberania e na urgente reforma da Lei de Imprensa. Com a palavra o
Brasil progressista e genuinamente democrático.
Sintonia Fina via Izaías Almada
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
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