CNJ: Falcão explica o Golpe do Mello
Saiu na
Folha (*), pág. A6:
Contrário à criação do CNJ, ministro retoma luta contra o órgão
Até hoje, Supremo nunca decidiu em definitivo sobre nenhuma das 32 ações contra a atuação do conselho
JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A liminar do ministro Marco
Aurélio Mello é uma multiliminar. Manda que as sessões do CNJ que julgam
juízes sejam públicas. Hoje, não são. Diz que o CNJ tem competência
apenas subsidiária. Hoje, tem mais.
Tem competência originária
também. Os tribunais não têm mais prazo para julgar seus magistrados.
Tinha o prazo máximo de 140 dias. Agora não mais. E por aí vai.
A multiliminar é quase um tsunami Judiciário. Além de argumentos jurídicos, cinco fatores ajudam a explicá-la.
Primeiro, quando, em 2005, o
voto de Cezar Peluso viabilizou o CNJ, declarando sua
constitucionalidade, ele foi acompanhado por quase todos os ministros. O
único contra foi Marco Aurélio.
Seis anos depois, o ministro
volta à luta na mesma direção. Como não pode desconstitucionalizar e
acabar com o CNJ, oferece agora ao país um pessoal e limitador
entendimento do conselho.
Segundo, no dia em que o
processo estava naturalmente em pauta o ministro preferiu não votar.
Afirmou que, diante da reação social e política a favor do CNJ, não
havia clima para tanto. Agora, concede a liminar no último dia do ano
Judiciário.
A consequência é clara. O STF
não tem mais tempo para reavaliar. Enquanto o país espera, a liminar
prevalece. O ministro claramente se utilizou do tempo processual.
A liminar é legal. Resta saber
se intervir no timing político do processo a favor de sua tese é
democrático. Sempre lembrando que, como diz Carlos Drummond de Andrade, o
último dia do ano, não é o último dia da vida.
Terceiro, existe uma sintonia
entre sua decisão em favor das sessões públicas e sua decisão pessoal,
como presidente que foi do Supremo, de transmitir as sessões da corte
pela TV Justiça.
Quarto, analisadas todas as
ações de inconstitucionalidades do STF desde sua posse, Marco Aurélio é o
que tem o maior número de votos vencidos: 73%. Em seguida, vem Ayres
Brito com 28%. O seu credo jurídico é estaticamente ponto fora da curva.
Finalmente, o CNJ já teve de
enfrentar 32 ações diretas de inconstitucionalidade, isto é, tentativas
contrárias a sua atividade. Dessas, 20 foram propostas por associações
de magistrados.
Isso revela uma estratégia de
guerrilha processual permanente contra o CNJ. Até hoje, o STF não
decidiu em definitivo nenhuma ação contra este CNJ tal como criado pelo
Congresso. Até agora tudo tem ficado em suspenso, em liminares. Assim
será outra vez?
Sintonia Fina - Conversa Afiada
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
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