Falar do Bolsa Família nas rodas
da classe-média no Brasil é algo desgastante. Os que discordam são
sempre raivosos e olham os beneficiados com um ar superior, moralista e
hipócrita.
No país, quem manda na cabeça da
classe-média, normalmente incapaz de pensar, é a imprensa. E mesmo
nossa imprensa já parou de meter o pau no programa. É que reiteradas
vezes, uma após outra, os dados comprovaram que é falsa a premissa de
que todo mundo que recebe o benefício é vagabundo. Maior prova disso é a
economia nordestina ter crescido nos últimos anos quase 50%. Tirando
alguns rincões da China, altamente subsidiados pelo seu governo,
praticamente lugar nenhum do mundo experimentou crescimento tão grande.
A
conta é fácil de se fazer. Mais dinheiro circulando, maior consumo,
mais empregos. No Brasil, mais de 40% dos beneficiados já sairam
ESPONTÂNEAMENTE dos quadros do Bolsa Família. Em outras palavras, o cara
pobre quando consegue um emprego, vai lá e avisa que podem parar de
pagar pra ele, e passar a pagar pra outro que precise.
Existem exceções? Claro, sempre
existem. Corrupto é corrupto em qualquer classe social, o que muda é a
quantidade de grana que se consegue roubar. Ou você mesmo nunca ouviu
falar de mulheres que nunca casaram "no papel" pra não deixar de receber
a normalmente gorda pensão do pai militar que morreu (esse benefício só
vale pra quem tem direito adquirido, considerando que hoje ele é
proibido)?
Ou do funcionário público que mesmo ganhando muito bem,
desvia verbas e cobra propinas? Ou quem sabe do executivo da
multinacional que ainda que com um salário invejável, mesmo assim
surrupia a empresa na qual trabalha?
Precisamos aprender que corrupto é corrupto porque é corrupto, não porque é pobre e brasileiro.
O baluarte dos exemplos da nossa
decrépita classe-média, os Estados Unidos tem provado disso de forma
muito amarga. Altos executivos de empresas trilionárias pouco se lixam
para a crise que eles mesmos criaram, de propósito (sim, porque com toda
a desregulamentação, ganhavam mais dinheiro). Continuam exigindo seus
cheques e o povo que morra de fome.
O movimento Ocupe Wall Street não
nasceu por acaso. Na outra ponta, o desemprego campeia na América. Os
estados mais pobres também têm sua cota de desocupados que precisam de
ajuda. Os "food stamps" (cupons de comida) e os cheques de assitência
social desde há muito existem e especialmente nos tempos de crescimento
econômico, ajudaram o país a dar uma força aos mais necessitados, até
que eles fossem eventualmente trazidos ao mercado de trabalho. Isso
quando a América tinha uma política econômica mais séria.
Hoje, nos
tempos de bandalheira neoliberal alguns programas ainda existem (os que
resistiram a Reagan e Bush), mas o governo parece não muito preocupado
em criar empregos. Tanto é fato, que não consegue peitar um congresso de
bandidos milionários.
Lucas Mendes em sua coluna na
BBC Brasil traz um olhar sobre alguns beneficiários de programas de
assistência naquele país. Em uns dos estados mais pobres e atrasados,
americanos não muito chegados ao trabalho deixam de ganhar 1300 dólares
por semana na lavoura como colhedores, para ganhar 260 como dependentes
do viúva. É que o trabalho é "pesado".
E olha, nos Estados Unidos, que
nossa mídia tão alienada proclama como exemplo pra tudo, mesmo sendo um
país que mal se aguenta em pé.
Vale a pena dar uma lida no que diz Lucas (aqui).
Aliás, convém dizer que a realidade americana está comendo pelas pernas
mesmo nossos colunistas mais apegados ao Tio Sam. Está sendo duro para
eles reconhecerem que todo aquele trololó democutano que eles cresceram
ouvindo, está sumindo como areia pelos vãos dos dedos.
Não é mais só o brasileiro que é
vagabundo. Não somos só nós que temos corruptos ou que enfiamos coisas
nos bolsos pra sair das lojas sem pagar. Seu país de exemplo não é mais
exemplo de nada.
Na verdade, há muito tempo que
não é. O que demorou um pouco, foi aparecer as consequências de tanta
barbaridade e liberalidade. É muita gente tendo que rever seus conceitos
ao mesmo tempo. Lá e cá. Nada como um dia depois do outro.
Sintonia Fina via Anais Políticos
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