Sintonia Fina reproduz do Limpinho e Cheiroso.
Laurindo Lalo Leal Filho, via Blog
do Miro
Quem viveu a ditadura militar no Brasil
sabe o que é censura. Jornais publicavam poemas e receitas de bolo no lugar dos
textos cortados pelos censores. Nas redações temas proibidos estavam nos murais
para nenhum jornalista tocar naqueles assuntos. Felizmente isso acabou e o estado
agora é responsável pela garantia da liberdade de expressão.
Mas se a censura oficial deixou de
existir, a empresarial cresceu de forma assustadora. Hoje quem impede o brasileiro
de saber muito do que ocorre no País e no mundo são os grandes grupos de comunicação.
Mostram um recorte da realidade produzido
segundo seus interesses e escondem o que não lhes convêm. Como são poucos, com orientações
editoriais semelhantes, a diversidade de notícias e de interpretações da realidade
desaparecem.
Em política e economia a prática é
diária. Basta ver o alinhamento do noticiário com os partidos conservadores e a
exaltação da eficiência do mercado. Na televisão, a censura vai mais longe e chega
até ao esporte.
De disputas esportivas, quase todas
as competições foram sendo transformadas em programas de televisão, subordinados
aos interesses comerciais das emissoras.
Tornaram-se produtos vendidos por
clubes e federações às TVs que, em muitos casos, compram e não transmitem os eventos,
só para evitar que os concorrentes o façam.
Há um caso exemplar ocorrido em Pernambuco. Enquanto
a Rede Globo transmitia para o estado jogos de clubes do Rio ou de São Paulo, a
TV Universitária local colocava no ar as partidas do campeonato estadual.
Claro que estas despertavam maior
interesse, elevando a audiência da emissora. A Globo, sentindo-se incomodada, comprou
os direitos de transmissão do campeonato para não transmiti-lo, retirando do torcedor
local o direito de ver o seu time jogar.
Quando passamos do regional para o
global a disputa fica ainda mais acirrada, como vimos com o recente duelo travado
entre Globo e Record em torno dos jogos Pan estadunidense de Guadalajara.
Salvo em raros momentos, a emissora
da família Marinho nunca deixou de ditar a pauta esportiva nacional. Além das transmissões
de eventos, seus noticiários foram sempre contaminados por exaustivas coberturas
das competições.
Quantas vezes o Jornal Nacional dedicou
mais tempo à seleção de futebol ou a uma corrida de carros do que a assuntos de
relevante interesse político ou social?
Com a ascensão da Record o quadro
mudou. E o Pan do México ficará na história da televisão brasileira como o momento
de ruptura do monopólio das transmissões esportivas no País.
Se há o lado positivo da entrada de
um novo ator em cena, há a constatação de que o direito de ver segue sendo usurpado
do telespectador.
No caso da Globo, seus decantados
“princípios editoriais”, segundo os quais “tudo aquilo que for de interesse público
deve ser publicado, analisado, discutido”, foram, outra vez, ignorados.
Nos primeiros dias de disputa o Pan
não existiu para a Globo e, depois, ficou restrito a míseros segundos no ar. Na
concepção da emissora, por serem transmitidos pela concorrente, deixaram de ter
“interesse público”.
Por outro lado a Record não fez por
menos e de olho na audiência, em muitos momentos, não transmitiu os jogos – e só
ela podia fazer isso – para manter no ar sua programação normal.
Frustrou inúmeros telespectadores
que num domingo foram em busca do Pan e se viram diante do Gugu.
A aplicação das leis de mercado, sem
controle, ao mundo da TV é a causa desse desconforto. Não há como mudar a situação
sem a interferência do Estado, colocando algumas regras para proteger o telespectador.
No caso específico do futebol, o governo
argentino resolveu o problema comprando os direitos de transmissão dos jogos do
campeonato nacional, passando a transmiti-los em sinal aberto pelo Canal 7, a emissora pública do País.
Não é uma boa ideia para começar?
Sintonia Fina
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