A submissão
canina da grande imprensa à desumanidade capitalista está
emblematicamente expressa no editorial desta 5ª feira (3) da Folha de S. Paulo, Drama grego, que começa assim:
"A inoportuna iniciativa grega de convocar um referendo sobre o pacote de ajuda causa turbulência e pode agravar ainda mais a crise europeia
É potencialmente explosiva a decisão do primeiro-ministro grego, George Papandreou, de convocar um referendo sobre o pacote de socorro ao país aprovado pelas principais lideranças da zona do euro.
O plano, embora não resolva de forma imediata e definitiva a insolvência do país, o que seria impossível, pode pelo menos salvá-lo de um calote desordenado, com graves consequências para a economia europeia e mundial".
Ou
seja, atendendo à prioridade de evitar "graves consequências para a
economia europeia e mundial", o premiê grego deveria enfiar um pacote
recessivo goela adentro dos cidadãos de seu país sem sequer
consultá-los, salvando bancos e desgraçando pessoas.
Os poderosos do mundo assim exigem, e seus cãezinhos midiáticos obedecem fielmente ao comando dado pela voz do dono.
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Crack de 1929: eu sou você amanhã... |
A iniciativa de
Papandreou vai tornar o povo grego alvo de todos os raios do Olimpo, se
outros povos e outros governantes não seguirem o altaneiro exemplo da
Grécia, recusando-se também a levar adiante este jogo de cartas marcadas
que, ao preço da penúria de homens e nações, apenas adia o inevitável.
As crises cíclicas do
capitalismo têm hoje outra aparência, mas a mesma essência: a
irracionalidade básica de um sistema fundado na mais-valia, que gera um
permanente desequilíbrio entre a oferta e a procura, cujas consequências
são apenas postergadas pelos mecanismos de crédito que empurram para a
frente o acerto de contas -- o qual, mais dia, menos dia, chegará.
O intervalo entre as ameaças de um novo crack
e a engenharia financeira que o evita temporariamente está cada vez
mais curto. É inimaginável chegarmos ao final desta década sem que o
mundo inteiro pague, na forma de uma depressão pior ainda que a da
década de 1930, o preço de já não ter se livrado do capitalismo.
Pois, mais apropriada do que a
metáfora antiga de parto da revolução, é a de que urge enterrarmos o
quanto antes um defunto que já está fedendo.
Sintonia Fina - Náufrago da Utopia
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