16 de nov. de 2011

Globo exalta "dono da bola" e pai do Mensalão



Capa da revista Época Negócios é dedicada ao banqueiro Ricardo Guimarães, do BMG, que foi o maior financiador do Mensalão; na lógica da imprensa brasileira, todos os corruptos devem ser punidos; já os corruptores...


Aguarda-se, para o início de 2012, o julgamento do maior escândalo de corrupção de todos os tempos no País: o “Mensalão”, que eclodiu em 2005, depois que o ex-deputado Roberto Jefferson denunciou um esquema de compra de deputados operado pelo ex-publicitário Marcos Valério de Souza. À época, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, instalada no Congresso Nacional, descobriu a origem dos recursos. 


Eram empréstimos concedidos pelos bancos Rural e BMG, ambos sediados em Minas Gerais – a maior parte dos recursos veio do BMG, que irrigou os cofres do Partido dos Trabalhadores com R$ 44 milhões. 


O Rural pretendia obter facilidades do Banco Central para adquirir o Banco Mercantil de Pernambuco. O BMG, por sua vez, não apenas pretendia, como obteve facilidades para operar, com exclusividade, operações de crédito consignado para pensionistas do INSS e do setor público.


Como consequência do escândalo, foram denunciados 40 políticos envolvidos no esquema. Numa outra ação paralela, também foram denunciados os financiadores do Mensalão. Entre eles, o banqueiro Ricardo Annes Guimarães, presidente do BMG, e vários diretores do banco, como Marcio Alaor de Araújo e o próprio pai de Ricardo, Flávio Pentagna Guimarães. 


Eles foram denunciados por gestão fraudulenta porque, nos empréstimos concedidos ao PT, não teriam sido observadas normas internas do Banco Central, nem as normas internas do próprio banco.


No entanto, para as Organizações Globo, o banqueiro Ricardo Guimarães, já está reabilitado. Ele é a capa da edição deste mês da revista Época Negócios, que o apresenta como “O Dono do Futebol”, uma vez que o BMG patrocina equipes como Vasco, Flamengo, São Paulo, Santos, Palmeiras, Atlético, Coritiba e Cruzeiro – coincidência ou não, o Brasileirão, sustentado por patrocínios como o do BMG, é um dos melhores negócios da Globo.


O Mensalão não existiu?
Da leitura da reportagem de Época Negócios, depreende-se que o Mensalão não existiu. 


Não há uma única referência da revista ao esquema de compra de parlamentares financiado com empréstimos concedidos pelo BMG, banco que hoje responde por 10% do volume de crédito a pessoas físicas no Brasil.


Há uma aspa, na boca do próprio Ricardo Guimarães, no fim da reportagem, sobre o caso, quando ele contesta que o BMG tenha tido qualquer exclusividade na concessão de crédito consignado. Eis o trecho.


“Nunca foi dada exclusividade alguma ao BMG”, diz Ricardo Guimarães. “Essa é uma história fictícia que surgiu junto com a acusação de que o banco fazia parte do mensalão. 


Não é nem uma história – é uma estória. O que houve é que nós apenas nos interessamos pelo produto, que tinha um spread menor. 


E trabalhamos com afinco para promovê-lo.”
Depois disso, a revista afirma que os sócios do BMG não estão entre os 38 réus que serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal.


De fato, não estão. São réus em outro inquérito, paralelo ao do Mensalão, que foi aberto em Minas Gerais por determinação do ex-procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. São acusados de gestão temerária de instituição financeira, por terem emprestado recursos para o PT sem observar normas exigidas pelo Banco Central, nem as normas do próprio BMG.


Fica, então, combinado assim.
O Mensalão não foi uma história.
Foi uma estória.


E o BMG não tem nada a ver com isso.
Curioso é que as Organizações Globo, sempre tão dispostas a atacar corruptos, como em capas recentes da revista Época, não tenham o mesmo afinco quando se trata de investigar corruptores.


Sintonia Fina - Brasil 247

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