Os
nossos jornais são, realmente, o máximo. Fizeram uma “revolução
silenciosa” e aboliram o padrão mundial de jornalismo que se implantou
pelo mundo – aqui, pelas mãos de Pompeu de Souza e Luis Paulistano, dois
marcos do jornalismo. Os nossos velhos “narizes de cera” deram lugar ao
“lead” e à ideia da pirâmide invertida na informação: o mais importante
vem primeiro.
Hoje, por exemplo, a reportagem “Com alta de imposto, governo compensou extinção da CPMF“, da Folha, tem de ser lida até o último parágrafo para que você saiba sobre quem incidiu a tal “alta de imposto”.
E descobrir que não foi sobre você, amigo leitor.
A
matéria está correta no conteúdo, mas é construída dentro da linha de
pensamento dominante de explorar a famosa “carga tributária” que faz a
União arrecadar cada vez mais impostos.
Mas, se você olhar bem, a matéria só tem dados que contém mudanças sadias na estrutura dos impostos e das receitas da União.
A
primeira é a de que as estatais passaram, como deve ser, a dar melhores
resultados financeiros para seu dono: o Governo brasileiro.
A
segunda é que o Imposto sobre Operações Financeiras passou a arrecadar
mais não tanto em função da elevação das alíquotas, simplesmente, mas
sobre a expansão do crédito no país – e sem contar o imobiliário, que é
isento de imposto, para pessoas físicas. O estoque das operações de
crédito no Brasil, desde 2006, mais do que dobrou, passando de R$ 733
bilhões em dezembro daquele ano, para R$ 1,7 trilhão, em dezembro de
2010.
Logo, a arrecadação do
imposto ter também mais do que dobrado não é essencialmente resultado da
elevação da alíquota em 0,38% para compensar a CPMF, mas da expansão
imensa sofrida pela base da tributação.
Por
último, ficamos sabendo que este aumento da carga tributária está
incidindo – vejam que coisa absurda – sobre o lucro dos bancos, que
tiveram elevada de 9% para 15% a alíquota de sua Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido, a CSLL. Como os bancos vêem registrando lucros
recordes balanço após balanço, também é lógico que a arrecadação suba e,
como se vê, sem comprometer em nada a invejável saúde financeira de que
desfrutam.
A matéria, repito,
contém todos os dados verdadeiros, inclusive o de que a expansão da
arrecadação se deve ao nível mais elevado de atividade econômica.
Mas dá um trabalho danado para a gente poder entender uma coisa básica quando se trata de imposto: quem o está pagando.
Sintonia Fina - Tijolaço
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