3 de abr. de 2013

GANHO FÁCIL..."QUEREMOS JUROS, QUEREMOS JUROS, QUEREMOS JUROS…"


Lobby pela elevação dos ganhos do setor financeiro nunca foi tão escancarado no Brasil; Celso Ming, colunista do Estadão, diz que "o governo não se dispõe a combater a inflação com a arma mais poderosa que possui, que é a política monetária (política de juros)"; Alexandre Schwartsman, o "pitbull" dos bancos, diz que a inflação piorou, "mas o BC ainda não foi capaz de decidir se vai fazer algo a respeito"; Miriam Leitão prevê inflação acima do teto da meta; IPC de março, no entanto, aponta queda e o Banco Central, de Alexandre Tombini, deve frustrar mais uma vez a turma dos juros altos...

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O grito não está nas ruas, mas nunca foi tão explícito nas colunas econômicas dos grandes jornais. Colunistas, economistas e editorialistas querem porque querem uma dose maior de juros altos, a despeito da queda na produção industrial apontada ontem pelo IBGE. Esse lobby nunca foi tão escancarado como agora. Celso Ming, do Estadão, pede que o Banco Central use sua "arma mais poderosa". O economista Alexandre Schwartsman, "pitbull" do sistema financeiro, está quase tirando a roupa em praça pública por uma dose maior de Selic. E Miriam Leitão, do Globo, prevê a inflação acima do teto da meta. No entanto, o IPC apontou deflação em março.
Leia aqui a coluna de Celso Ming: 
A economia brasileira está sob processo de implacável desarrumação.
É a sucessão de pibinhos que, provavelmente, continuará este ano com um avanço da atividade econômica não superior a 3%.
É também a alta resistente e espalhada da inflação que, nos dois primeiros trimestres deste ano, perfurará o teto de 6,5% em 12 meses, incluída aí a faixa de escape de 2 pontos porcentuais. Tão ou mais preocupante, o governo não se dispõe a combater a inflação com a arma mais poderosa que possui, que é a política monetária (política de juros). Ao contrário, o combate à inflação voltou a ser feito por expedientes antigos e notoriamente ineficientes, como o represamento de preços e tarifas (caso dos combustíveis e da condução) e desonerações tributárias (como a da cesta básica e a dos veículos).
E é, ainda, a rápida deterioração das contas externas, sobretudo do Comércio Exterior, cujo superávit chegou aos US$ 40 bilhões em 2007 e vai sendo esvaziado rapidamente (veja o Confira). Neste ano, dificilmente passará dos US$ 9 bilhões - algumas projeções apontam para apenas US$ 4 bilhões.
Os desequilíbrios transparecem de outras avaliações. O governo gasta demais, como o Banco Central vem denunciando e ontem foi novamente objeto de avaliações de seu presidente, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Isso não é tudo, porque a transparência vem sendo sacrificada pelo uso de truques contábeis.
Embora contemplada com seguidos incentivos, a indústria mostra desempenho modorrento. Isso acaba de ser confirmado pelo IBGE, a partir dos levantamentos de fevereiro. Há um notório descompasso entre consumo e oferta, repetidas vezes denunciado pelo Banco Central, que desemboca nos maus resultados das contas externas. O mercado de trabalho está excessivamente aquecido e desequilibrado, o que concorre para a exacerbação da demanda, para elevar custos do setor produtivo e para a desenvoltura da inflação, principalmente no setor de serviços.
Informações sobre o apagão logístico estão todos os dias na TV e nos jornais. O governo parece ter-se dado conta de que é preciso puxar o investimento. Mas é lento demais e pouco eficiente. O setor privado parece algo mais propenso a investir, como mostra o melhor resultado do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), mas segue com o breque de mão puxado. Teme o excessivo intervencionismo do governo e a falta de determinação em combater o custo Brasil, que mina a competitividade do setor privado.
Até recentemente, o governo pretendia compensar a baixa capacidade de competir do setor produtivo com doses alentadas de desvalorização cambial (alta do dólar) que garantissem o encarecimento do produto importado. Mas deu marcha a ré nessa empreitada quando percebeu as avarias que apareceram na inflação.
A presidente Dilma não mostra disposição para a arrumação da economia. Não só porque seu conceito de ordem difere do partilhado pela maioria dos analistas, mas também porque se julga segura pelas pesquisas de avaliação de seu governo. Como estratégia eleitoral, a presidente pode estar certa. Mas, lá na frente, ficará mais difícil colocar a casa em ordem.
… o texto de Schwartsman:
O cenário inflacionário piorou, mas o BC ainda não foi capaz de decidir se vai fazer algo a respeito
Na semana passada, o Banco Central divulgou seu Relatório Trimestral de Inflação e, com ele, suas previsões para a inflação até o primeiro trimestre de 2015.
Como os 18 leitores já suspeitavam, o BC teve que rever significativamente para cima suas projeções, de valores pouco acima da meta em 2013 e 2014 para algo ao redor de 5,5% até março de 2015. Ainda são previsões otimistas, mas mostram, ao menos parcialmente, a extensão do problema.
Em meados do ano passado, quando os primeiros sinais de aceleração da inflação começaram a surgir, a equipe econômica, BC inclusive, culpava um mal definido "choque de oferta" relacionado à seca no EUA (que, maldosamente, só afetou o Brasil, poupando nossos vizinhos mais bem-comportados).
Seria, portanto, um fenômeno de curta duração, pois os preços cairiam assim que a oferta internacional se normalizasse, dissipando os efeitos inflacionários.
O próprio relatório demole esse argumento, já que previsão de inflação esperada acima da meta por período tão longo revela não mais se tratar de problema temporário e localizado.
Ao contrário, é coerente com um padrão observado há algum tempo nos índices de inflação: a proporção de itens que registram aumentos de preços no IPCA (o chamado índice de difusão) tem batido seguidos recordes, atingindo os valores mais elevados dos últimos dez anos, indicando propagação das pressões inflacionárias.
Não é por acaso, então, que até o BC, depois de negar o quanto pôde a gravidade do problema, começou, com atraso, a mudar de atitude.
Seja por meio dos discursos de seus dirigentes, seja em sua comunicação oficial, o banco passou a dar ênfase precisamente à persistência da inflação, assim como a seu caráter disseminado.
Ao mesmo tempo, removeu as referências à estabilidade da taxa de juros "por um período de tempo suficientemente prolongado" e, finalmente, ao reconhecer a piora nas perspectivas de inflação para os próximos 24 meses, preparou o terreno para iniciar a elevação da taxa de juros.
Ou não.
Depois de elencar os argumentos que justificariam um endurecimento da política monetária, inclusive reconhecendo a possibilidade de "uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado", o BC evita a conclusão lógica e "pondera que incertezas remanescentes (...) cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser conduzida com cautela".
Em outras palavras, o cenário inflacionário piorou consideravelmente, mas o BC ainda não foi capaz de decidir se vai fazer algo a respeito.
Não estivesse essa expressão presente já na ata do Copom, divulgada duas semanas antes de a presidente se manifestar contrária à elevação da taxa de juros, caberia até perguntar se a hesitação resulta de restrições de ordem política.
Aparentemente, porém, o BC hesita sozinho.
Isto dito, embora o Copom mostre autonomia de hesitação, a atitude da presidente em nada colabora.
Caso o BC conclua pela manutenção do nível atual da Selic nos próximos meses, será difícil para observadores externos distinguir entre duas possibilidades: uma decisão autêntica (apesar de, a meu ver, errônea) ou uma intervenção direta do mundo político num corpo que deveria ser predominantemente técnico eliminando qualquer ilusão remanescente sobre a autonomia decisória do BC.
Talvez esteja aqui a dificuldade maior de entendimento da presidente. Ninguém interpretou sua fala (contra "políticas de combate à inflação que olhem [sic] a redução do crescimento econômico") como sinal de descaso com a inflação (ainda que seja exatamente essa a conclusão inescapável do seu discurso), mas, sim, como um obstáculo à ação do BC, a quem foi dada a tarefa de proteger a estabilidade do poder de compra da moeda.
Pior do que a presidente não entender a dinâmica da inflação é sua desconsideração pelo arranjo institucional para lidar com o problema. Ainda iremos lamentar bastante as consequências.
… a coluna de Miriam Leitão:
A queda forte da indústria em fevereiro altera o quadro para o ano porque ameaça a previsão de crescimento de 3% do PIB. A alta de juros, que muitos davam como certa, pode ser adiada. O BC fica mais pressionado entre dois fogos: a atividade fraca e a inflação que em março deve ter superado o teto da meta. As sondagens com empresários e consumidores mostram que os termômetros de confiança não esquentaram.
Já se esperava queda na indústria em fevereiro, mas a redução de 2,5% foi mais forte que o previsto e significou o maior tombo mensal desde dezembro de 2008. O número praticamente anulou o crescimento de janeiro, de 2,6%. A produção encolheu em 15 das 27 atividades pesquisadas e a taxa é livre de influências sazonais, não se pode culpar os feriados do carnaval. A maior retração aconteceu no setor automobilístico, que, depois de subir 6,2% em janeiro, caiu 9,2%. Não foi à toa que o governo decidiu esta semana cancelar o aumento gradual do IPI para veículos, que estava previsto para o ano.
A única boa notícia está nos bens de capital, que subiram 1,6%, pelo segundo mês seguido. Mas houve uma forte desaceleração em comparação aos 9,6% de janeiro, e isso mostra que os investimentos no primeiro mês do ano estavam mesmo concentrados na produção de caminhões. O crescimento em fevereiro foi puxado pelas máquinas agrícolas, que cresceram 12%, e tem relação com a supersafra de grãos. Ou seja, as maiores altas têm explicações específicas.
Neste início de ano, os principais termômetros que medem a confiança na nossa economia estão frios. Isso preocupa. A bolsa terminou o primeiro trimestre com a maior queda em 18 anos. As sondagens feitas pela FGV com empresários e consumidores mostram que o ano ainda não engrenou. O Índice de Confiança da Indústria caiu pelo segundo mês seguido em março e voltou ao patamar de setembro. A confiança do setor de construção civil recuou 7,9% no primeiro trimestre, em relação ao quarto. A confiança dos empresários do setor de serviços teve um pequeno aumento em março, mas continua abaixo da média dos últimos cinco anos. Já a confiança dos consumidores está em queda há seis meses seguidos. Tudo isso contradiz a expectativa de alta forte do PIB.
O economista Aloisio Campelo, coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, explica que a queda da confiança dos consumidores tem relação com o mercado de trabalho, que tem gerado menos vagas. Também há influência negativa do endividamento das famílias e da inflação alta, que tira renda. Olhando para a indústria, Campelo ainda enxerga ociosidade dos meios de produção. Por isso, é preciso mesmo cautela ao olhar para as taxas de investimento.
- A alta do investimento no início do ano não está sendo puxada pelo esgotamento da capacidade instalada, porque ainda há ociosidade. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada não chegou a um patamar alto. Podemos dizer que está neutro. Os investimentos também não estão crescendo pela confiança, porque nossas sondagens mostram queda - disse.
Para que aconteça um crescimento do PIB de 3% ou mais, como espera o governo, o país tem que crescer forte em todos os trimestres. No primeiro tri, o baixo desempenho da indústria em fevereiro compromete o resultado e foi reforçado pela queda da confiança dos empresários em março.
O problema básico da economia é que o governo tem um diagnóstico errado. Com isso, preocupa-se em incentivar a demanda, quando deveria estar atuando na oferta, principalmente no investimento. O ambiente de negócios permanece ruim por inúmeros problemas, alguns regulatórios, e outros de incerteza. Movimentos de manutenção da demanda, como a renúncia fiscal de R$ 2,2 bilhões para não elevar o IPI dos carros, não produzem efeitos sustentados, apenas provocam antecipação de compras.
… e o noticiário da Reuters que apontou deflação em março:
SÃO PAULO, 3 Abr (Reuters) - O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de São Paulo encerrou março com queda de 0,17 por cento, após avanço de 0,22 por cento em fevereiro, informou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) nesta quarta-feira.
Pesquisa da Reuters mostrou que, pela mediana das expectativas de seis analistas, haveria queda de 0,15 por cento no mês passado, com as contas variando de queda de 0,10 a 0,20 por cento.
Em relação à terceira quadrissemana do mês, o indicador mostrou pouca alteração, após queda de 0,18 por cento na apuração anterior.
Na quarta quadrissemana de março, os preços do grupo Habitação recuaram 1,05 por cento, representando -0,3257 ponto percentual do IPC-Fipe do mês. O setor de Despesas Pessoais caiu 1,02 por cento, representando -0,1222 ponto percentual do índice.
A inflação tem preocupado tanto o mercado quanto o governo. Por isso, os agentes econômicos acreditam que o novo ciclo de aperto monetário deve ser iniciado em maio, com elevação da Selic, atualmente na mínima histórica de 7,25 por cento ao ano.
Na semana passada, o Banco Central piorou, em seu Relatório Trimestral de Inflação, todas perspectivas de inflação para este e para o próximo ano, admitindo até mesmo que a alta dos preços medida pelo IPCA vai estourar o teto da meta no período entre abril e julho, no acumulado em 12 meses.
O IPC-Fipe mede as variações quadrissemanais dos preços às famílias paulistanas com renda mensal entre 1 e 10 salários mínimos.
A divulgação do IPC-Fipe referente à primeira quadrissemana de abril ocorrerá em 9 de abril.
(Por Camila Moreira)

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