Veja aqui o que o Partido da Imprensa Golpista (PIG) não mostra!
por Emir Sader
Instala-se finalmente esta semana a Comissão da Verdade, com uma
excelente composição, que permitirá que cumpra plenamente com as funções
que lhe foram atribuídas. Estas são, centralmente, a apuração das
violações dos direitos humanos promovidas pelo Estado brasileiro
apropriado pela ditadura militar para impor um regime de terror no país;
e escrever a interpretação que o Estado democrático brasileiro tem
daquele período.
Esta visão orientará os trabalhos da Comissão, tipificando o que sucedeu
no pais naquele período caracterizado pela ditadura militar e pelo
ataque e destruição de tudo o que tivesse a ver com a democracia no
Brasil. As pesquisas – sua sistematização e seu aprofundamento – deverão
ocupar grande parte das energias e do tempo da Comissão, mas poderão se
apoiar na extensa lista de investigações desenvolvidas por órgãos
ligados aos direitos humanos nas ultimas décadas, para o que contarão
com o a possibilidade de engajar pessoal qualificado para esse trabalho,
com as dezenas de Comissões Estaduais da Verdade, assim como com órgãos
ligados aos direitos humanos e com o apoio total da Presidência da
Republica para dispor dos recursos que necessite.
A simples instalação da Comissão da Verdade deixa ouriçados os setores
que estiveram, direta ou indiretamente, envolvidos. Tentam envolver a
todos, para tentar banalizar as ações do regime de terror, do qual eles
foram cumplices. Gostariam de igualar verdugos e vitimas, agentes da
tortura e opositores ao regime, ditadura e democracia.
O que houve no Brasil foi uma ocupação do Estado pelas FFAA, que o
militarizaram e impuseram uma ditadura no país. Daí as funções da
Comissão da Verdade. Propor que se investiguem “dois bandos” é supor que
o que houve de 1964 a 1985 foi uma guerra civil entre dois lados.
Quando o que houve inquestionavelmente foi uma ditadura militar.
Aconteceu algo similar ao que ocorreu na Alemanha na época do nazismo,
na Itália com o fascismo, na Espanha com o franquismo, em Portugal com o
salazarismo. Não se tratou ali e não se trata hoje, de apurar as ações
dos opositores a esses regimes totalitários, mas das ações desses
regimes na violação da democracia e nos crimes cometidos contra seus
opositores.
Aqui também.
O incômodo que a Comissão da Verdade gera em setores que foram cúmplices
da ditadura ou seus agentes diretos, por si só, é confissão de culpa.
Ninguém deveria ter medo de falar na Comissão da Verdade. Aqueles que
acreditam que seus nomes foram injustamente envolvidos em acusações de
crimes e cumplicidade – sejam pessoas, órgãos da imprensa, associações
políticas – deveriam se propor voluntariamente a declarar, para
esclarecer, de uma vez por todas, seus tipos de envolvimento com a
ditadura militar.
A Comissão da Verdade começa a funcionar esta semana e o Brasil
finalmente poderá, de forma oficial, esclarecer o que ocorreu no período
mais negativo da sua historia. Seremos melhores com o seu funcionamento
e as conclusões que apresentar, teremos uma história mais transparente e
estaremos mais protegidos contra a possibilidade de que aventuras
ditatoriais como aquela voltem a assolar o país.
Sintonia Fina
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