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Após denúncia, Anhanguera vai analisar contrato com empresa de acusado de tortura
'Ele não torturou apenas a mim e a meu pai, mas uma infinidade de pessoas', diz filho de operário morto na ditadura
Paulo Saldaña, Estado de S. Paulo, e Lorena Amazonas
A Anhanguera Educacional, rede de ensino superior que tem 73 câmpus,
informou que vai analisar o contrato que firmou com a empresa de
segurança Dacala. Ela pertence a um acusado de tortura durante a
ditadura, o delegado aposentado David dos Santos Araujo, conhecido como
capitão Lisboa. "Afirmo para quem quiser ouvir que ele matou meu pai sob torturas. De fato foi ele quem deu a paulada que o matou", afirma Ivan Seixas, filho do operário Joaquim Alencar Seixas, dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT).
Ivan, que era adolescente na época da prisão do pai, em 1971, diz que
também alvo das torturas do capitão Lisboa, lotado na época do DOI-Codi.
"Ele não torturou apenas a mim e a meu pai, mas uma infinidade enorme de pessoas presas naquela época", completa. Araujo também é acusado de abusar sexualmente da irmã de Ivan Seixas.
Araujo está no ramo de segurança patrimonial desde o final da década de
1980, quando comandava a Osvil Segurança. A Dacala foi constituída
somente em 2006. A Dacala presta serviço para várias grandes empresas do
País - algumas informaram desconhecer o histórico de Araujo, caso da
Anhanguera.
"A Anhanguera Educacional selecionou seu fornecedor de serviços de
segurança seguindo uma avaliação estritamente técnica e comercial e sem
qualquer conhecimento prévio das acusações que agora se tornaram
públicas", informou a universidade, em nota. "A Anhanguera está
analisando cuidadosamente a questão, além de acompanhar os pareceres dos
órgãos e instâncias que a sociedade possui para investigar e julgar
tais denúncias, e não hesitará em tomar quaisquer medidas que se mostrem
necessárias."
No fim de março, o movimento Levante Popular da Juventude realizou uma
mobilização, denominada “esculacho”, em frente da sede da empresa do
delegado aposentado. O movimento realiza ações simultâneas de denúncia
de diversos torturadores em várias capitais do País. A ofensiva acontece
no momento em que a Comissão da Verdade, criada pelo governo federal
para investigar crimes da ditadura, prepara o início dos trabalhos.
Em nota, o Levante Popular da Juventude informou que os atos são uma
“denúncia sobre o passado”, pelo resgate da memória. O grupo afirma que
não descarta a possibilidade de realizar um “escracho” em frente dos
câmpus da Anhanguera. “Se irão continuar financiando é algo a se
denunciar também”, diz a nota.
Em agosto de 2010, o Ministério Público Federal entrou com uma ação
civil pública contra David dos Santos Araujo, e outros dois delegados: o
também aposentado Aparecido Laertes Calandra e Dirceu Gravina, ainda na
ativa. Na ação, pede-se "o reconhecimento judicial da responsabilidade
civil dos réus pessoas físicas como autores e partícipes nos atos de
tortura e homicídio de diversas pessoas que foram reputadas opositoras
do regime militar". A ação exige que os acusados percam sua
aposentadorias, como no caso dos dois primeiros citados, e Gravina, o
cargo.
Em fevereiro de 2011, a ação foi julgada improcedente e os pedidos
formulados rejeitados - em virtude da Lei de Anistia. Em agosto do mesmo
ano, o MPF entrou com recurso de apelação à sentença - que aguarda
julgamento.
“Existe tolerância no Judiciário muito grande, mas é um muro de pedra. A
Justiça brasileira está muito atrás da de outros países”, afirma a
procuradora da República Eugênia Gonzaga, uma das responsáveis pela ação
civil pública.
A ação do MPF leva em conta documentos sobre o período, como o Dossiê
Ditadura, além de depoimentos, como o do próprio Ivan Seixas. Presos em
16 de abril de 1971, Joaquim Seixas e seu filho Ivan foram levados ao
DOI-Codi para interrogatório. Mas a versão oficial é de que o militante
tenha morrido nessa mesma data, numa troca de tiros com a polícia após
resistir à ordem de prisão.
"Quando eu o reconheci, ele (David dos Santos Araujo) disse que não me
conhecia, mas afirmou que havia interrogado meu pai no dia 17. Ao ser
questionado como isso era possível, visto que meu pai oficialmente
morrera ao resistir a prisão, ele respondeu: 'Isso eu não sei'", afirma
Ivan.
A Dacala é investigada pela Polícia Federal desde 2007 e já teve
recomendado o cancelamento do seu registro por ter utilizado armas
frias. A PF encontrou na empresa 111 armas supostamente roubadas.
Os armamentos teriam sumido da Osvil e de uma segunda empresa, chamada
Vigor, mas apareceram na Dacala. Araujo foi apontado na investigação
como responsável pelo "sumiço dessas armas de fogo, bem como o seu
emprego ilícito".
A Dacala foi procurada, mas não quis se manifestar.
Sintonia Fina
- com O Esquerdopata
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