A disposição de discutir os desafios do país, não
de um ponto de vista diletante ou apenas acadêmico, mas engajado,
organizado e direcionado à busca de soluções para os gargalos do
desenvolvimento brasileiro, reuniu meia centena de economistas das
mais diversas especialidades na semana passada na Unicamp. A iniciativa,
desdobrada em três dias de debates, divididos em cerca de uma dezena de
mesas, foi o segundo passo na implantação da Rede Desenvolvimentista.
Nascida na universidade, a Rede pretende consolidar-se como uma caixa
de ressonância da agenda do desenvolvimento, ancorada em propostas e
projetos para o Estado brasileiro e a integração sul-americana.
A iniciativa tem um significado histórico encorajador. Cada época tem sua usina de reflexão estratégica. A Cepal cumpriu esse papel nos anos 50/60, de um ponto de vista progressista. O nacional desenvolvimetismo do ISEB funcionou como um tink thank das reformas de base que agitaram a vida política e intelectual do país até 1964. O ocaso da agenda do desenvolvimento a partir dos anos 90 tem razões políticas conhecidas. A hegemonia do credo neoliberal tornava dispensável a reflexão de natureza propositiva sobre os rumos do país. O mercado era rei. Seus centuriões midiáticos, mas também academicos, blindavam a agenda econômica nos estritos limites das reformas requeridas à livre ação dos capitais, ungidos à condição de sinônimo de eficiência e autossuficiencia na ordenação da economia e da sociedade.
A desordem financeira eclodida em 2008 rasgou a fantasia de um corso estridente feito de Estado mínimo, privatizações e regressividade social. Ao dobrar a aposta nesse enrêdo anacrônico a Europa oferece um condensado pedagógico de sua natureza letal na vida dos cidadãos e na engrenagem produtiva. Mais que tudo ,porém, a chocante desagregação da sociedade europeia nos recorda que o colapso de um ciclo não leva automaticamente ao passo seguinte da história.
A iniciativa tem um significado histórico encorajador. Cada época tem sua usina de reflexão estratégica. A Cepal cumpriu esse papel nos anos 50/60, de um ponto de vista progressista. O nacional desenvolvimetismo do ISEB funcionou como um tink thank das reformas de base que agitaram a vida política e intelectual do país até 1964. O ocaso da agenda do desenvolvimento a partir dos anos 90 tem razões políticas conhecidas. A hegemonia do credo neoliberal tornava dispensável a reflexão de natureza propositiva sobre os rumos do país. O mercado era rei. Seus centuriões midiáticos, mas também academicos, blindavam a agenda econômica nos estritos limites das reformas requeridas à livre ação dos capitais, ungidos à condição de sinônimo de eficiência e autossuficiencia na ordenação da economia e da sociedade.
A desordem financeira eclodida em 2008 rasgou a fantasia de um corso estridente feito de Estado mínimo, privatizações e regressividade social. Ao dobrar a aposta nesse enrêdo anacrônico a Europa oferece um condensado pedagógico de sua natureza letal na vida dos cidadãos e na engrenagem produtiva. Mais que tudo ,porém, a chocante desagregação da sociedade europeia nos recorda que o colapso de um ciclo não leva automaticamente ao passo seguinte da história.
Novos atores e novos projetos devem assumir o comando do destino brasileiro.
A Rede Desenvolvimentista avança nesse hiato entre dois mundos. E se propõe a pavimentar um pedaço da travessia organizando a discussão de agendas estratégicas para superar torniquetes sedimentados pela supremacia neoliberal nas esferas financeira, industria, cambial e tecnológica.
O termo 'social desenvolvimentismo' sintetiza o eixo desse comboio de idéias e forças políticas que buscam resgatar o direito soberano de uma sociedade planejar o seu crescimento e o seu futuro.
Com o risco de afrontar nuances pode-se dizer que uma constatação permeou a maioria dos debates e discussões da Rede Desenvolvimentista: o desenvolvimento brasileiro vive um divisor; o equilíbrio frágil entre crescimento e justiça social, perseguido a partir de 2003, e que diferencia o desenvolvimentismo atual da versão economicista dos anos 50, requer um alto estrutural para se instaurar de forma consistente. O modelo chinês de arrocho salarial não serve por princípio --assim como não serve a eficiência exportadora alemã, ancorada igualmente em arrocho: "Voces sabem quanto ganha uma administradora de empresas terceirizada na Alemanha de Merkel?
Pois bem ganha 800 euros, quase o salário de empregada domética no Brasil", exemplificou Luiz Gonzaga Belluzzo em sua intervenção sobre os componentes da crise internacional. O tripé requerido, feito de aceleração do investimento, salto de produtividade e avanços sociais, sobretudo na educação, não está,portanto, desenhado, nem há modelos prontos a perseuir. O fenômeno da desindustrialização evidencia o custo de se prolongar essa indefinição no tempo. O fôlego industrial do país hoje é 5% inferior ao que existia no pré-crise de 2008. Poderá recuar mais 5%, advertiu-se no debate da Rede. Quem acha que é pouco deve ser informado que a corrosão ocorre justamente nos setores de ponta, que dão o comando aos demais segmentos da produção.
Não se trata de um fetiche manufatureiro: ter indústria significa ter um setor de bens de capítal arrojado capaz de irradiar competitividade e eficiência ao conjunto do sistema produtivo.
Inúmeras as medidas são evocada na superação dessa regressividade, que não decorre apenas do câmbio defasado e dos juros siderais, ainda que eles tenham um peso importante. Um ensaio de consenso emergiu dos debates: o mercado não fará isso pela sociedade brasileira. Seja na frente do investimento, da pesquisa, do crédito e do salto educacional requerido, o Estado democrático deve assumir o seu papel hegemônico nesse processo.
Não se prescinde do mercado, sobretudo do mercado de capitais, mas a insuficiência desse ator privado ficou evidente na recente queda de braços entre o governo e a banca para a redução dos spreads . A pendência só se inclinou a favor da redução do custo do dinheiro (mas ainda não da expansão do crédito) quando o governo Dilma decidiu politizar o tema e acionou uma poderosa alavanca indutora, os bancos estatais, que normatizaram o significado do interesse nacional nos dias que correm. Esse trunfo está presente também na área do petróleo, graças à regulação soberana das reservas do pré-sal, mas inexiste em outros segmentos e esferas modeladoras do desenvolvimento. Fundos de investimento de longo prao, por exemplo, são diluídos e descordenados. A criação de um 'fundo dos fundos', que reunisse capitais públicos, caixas de pensão e mesmo capital estrangeiro de longo prazo --comandados por um grande ordenador estatal, como o BNDES-- foi uma das idéias-força registradas no evento da Unicamp.
Comentário de um participantes das mesas de debates: "O Brasil tem que perder o medo de discutir novamente um tema interditado nos anos 90: a criação de novas empresas públicas, estatais que possam nuclear setores estratégicos e fazer o mesmo que os bancos públicos e a Petrobrás implementam em suas respectivas áreas: colocar o mercado a serviço do país'.
Sintonia Fina
- com Carta Capital
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