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Com dados apurados antes da atual onda de corte de juros, que
ainda permanece restrita a determinados pacotes de serviços e segmentos
de clientes, Dieese revela que maior parte do spread é formada por
lucro, compulsório representa apenas 4 pontos percentuais da taxa e
índice de inadimplência é estimativa, e não dado real.
São Paulo – Estudo
divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-econômicos (Dieese) desmonta alguns dos principais argumentos dos
bancos brasileiros para manterem spreads elevados na intermediação
financeira.
No início deste mês, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban),
pressionada pelo governo federal, condicionara a queda do spread a uma
série de medidas a serem tomadas pelo governo, como redução do
compulsório e de impostos.
Como se sabe, a resistência durou pouco. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, sob ordens do governo, cortaram os spreads, obrigando as instituições privadas a fazerem o mesmo para não perderem mercado – ainda que os benefícios permaneçam restritos a alguns pacotes de serviços e segmentos de clientes.
O que o estudo da subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários de São
Paulo, Osasco e Região confirma agora, com base em dados do Banco
Central (BC), é que o spread é alto no Brasil por conta das altas
margens de lucro embutidas na taxa.
Em 2010, última pesquisa feita pelo BC, o spread era formado por 32,7%
de margem líquida, 28,7% de inadimplência, 21,9% de impostos diretos,
12,6% de custo administrativo e 4,1% de despesas referentes ao
compulsório, subsídio cruzado e fundo garantidor de crédito.
“Alguns analistas dizem que é preciso reduzir o compulsório para cortar o
spread, mas isso é um desvio de foco, porque o compulsório representa
apenas quatro pontos do spread”, afirma o economista do Dieese Gustavo
Cavarzan, um dos autores do trabalho.
Ele lembra ainda que está embutido no spread um custo administrativo de
mais de 12 pontos percentuais, apesar de os bancos já obterem uma
remuneração via tarifas de 130% do valor das despesas com pessoal.
Por fim, com relação à inadimplência cobrada via spread, ele aponta que o
valor é uma estimativa, e não a “inadimplência real”. Isso sugere que
em determinados períodos os bancos cobram um valor referente à taxa de
inadimplência que, na verdade, poderia ser menor.
Antes da atual onda de corte nos spreads, os bancos brasileiros eram um
ponto fora da curva no mundo, onde alguns países chegavam a ter “spreads
negativos”. Em janeiro de 2012, enquanto a taxa média paga para
aplicações financeiras no Brasil estava em 38% ao ano, a taxa média de
captação era de 10,2% anuais, resultando em um spread de cerca de 27,8
pontos percentuais ao ano.
Na Argentina, esse número estava em 3,39 pontos, no Chile, em 4,49, no
México, em 3,82, na Colômbia, em 7,37, e na Bolívia, em 9,61. Agora,
aguarda-se um novo estudo para confirmar se os spreads no Brasil
convergem rumo a padrões normais.
Apesar das novidades, Cavarzan afirma que não acredita que os bancos do
país deixarão de registrar lucros relativamente mais elevados do que em
outros países. “Eles vão deixar de ganhar na margem, mas vão ganhar na
escala,”, diz.
O mercado de crédito no país realmente tem um amplo potencial de
crescimento. Enquanto por aqui o volume de crédito alcança patamares de
48% (metodologia do BC, em janeiro de 2012) ou 57% (metodologia do Banco
Mundial, em 2010), esse número chega a 225% na Dinamarca, 169,2% no
Japão, 145,5% na África do Sul e 130,0% na China - conforme dados do
Banco Mundial.
Sintonia Fina
-com Carta Capital
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