O
presidente da CBF está num cai não cai, num renuncia não renuncia. Mas
por que só agora ele está a perigo, já que se mantém há 23 anos no
poder? Quais as circunstâncias que o colocaram na berlinda, ou, usando
um termo mais apropriado, na marca do pênalti?
O presidente da CBF está num cai não cai, num renuncia não renuncia.
Mas
por que só agora ele está a perigo, já que se mantém há 23 anos no
poder? Quais as circunstâncias que o colocaram na berlinda, ou, usando
um termo mais apropriado, na marca do pênalti?
Creio que na resposta pode ser dividida em seis partes:
Preservar
a filha: Começou-se dizendo que Ricardo Teixeira iria renunciar porque
sua pequena filha começava a escutar na escola boatos poucos elogiosos
sobre o pai. Era uma tese simpática, que dava a Teixeira uma dimensão
humana interessante. Mas nos últimos dias descobriu-se que não era nada
disso. É que na conta da filha foram depositados R$ 3,8 milhões por
Sandro Rosell, ex-presidente da Nike e sócio da Alianto. Ou foi um
presente de aniversário muito generoso ou Teixeira usou a própria filha
como laranja. Ou seja, não há a intenção de preservar a imagem perante a
filha, mas afastá-la de uma investigação.
Alianto:
Reportagens da Folha de S.Paulo mostraram que há uma ligação entre a
Alianto e Teixeira. A Alianto foi uma empresa criada dias antes do
amistoso entre Brasil e Portugal para promover o mesmo. E por um
precinho camarada de 9 milhões. Com denúncias de superfaturamento, é
claro. Até agora Teixeira dizia que não havia ligação nenhuma entre ele e
a Alianto, mas a desculpa caiu por terra nos últimos dias.
Fome:
Teixeira está há 23 anos no poder. Seus aliados cansaram de receber
migalhas e querem uma fatia maior do bolo. Daí estarem articulando
rapidamente a substituição do atual presidente. Mas creio que esta
oposição não é algo preocupante para Teixeira. Por um punhado de
dólares, eles ficam mais mansos. As três questões abaixo são bem mais
importantes.
Aldo não é Orlando
nem Agnelo: Os dois ministros dos esportes anteriores a Aldo Rebelo
foram decepcionantes. Muita festa, pouca eficiência. Para manter a
pasta, o PC do B teve que convocar seu principal nome, Aldo Rebelo. Ele é
muito mais sério que seus antecessores e escreveu um livro sobre a CPI
da Nike que acabou censurado pela justiça a pedido de Teixeira. Por
outro lado, Aldo Rebelo recebeu doações da Ambev (via Fratelli Vita
Bebidas) e do Itaú, patrocinadores da seleção. Para mostrar que não faz
parte da bancada da bola, terá que ser duro com Teixeira.
Dilma
não é Lula: Lula era conciliador e com sua bonomia não atritava com
ninguém. Dê um google imagens com o nome de Lula e Ricardo Teixeira que
você verá várias fotos dos dois apertando as mãos, em conversas
animadas, etc... Mas dê um google imagens com o nome da presidente e de
Teixeira e você não verá os dois em troca de confidências. Na melhor das
hipóteses, há um Pelé entre eles. Dilma já mostrou várias vezes, alguns
ex-ministros que o digam, que não atua como salva-vidas. Não vai pedir a
cabeça de Teixeira porque a CBF é uma entidade privada. Mas não fará a
menor força para ajudá-lo.
ISL:
Por fim, há o escândalo da ISL, que me parece ser o motivo mais forte.
Blatter, presidente da Fifa, era amigo de Teixeira até este ter sonhos
de substituí-lo. Agora são inimigos e, também por conta disso, Blatter
vai abrir o escândalo da ISL. A Polícia Federal brasileira já está
investigando a Sanud, empresa de Teixeira que teria recebido propina da
ISL. Com a abertura das informações do processo suíço, o presidente da
CBF pode ter muitos problemas. Muitos. Não é à toa que Teixeira já
vendeu muitos de seus bens por aqui, fechou empresas e abriu uma em
Miami. São atitudes de alguém que sabe que está em perigo.
A
ditadura militar brasileira durou 21 anos. O jejum de títulos
corintiano durou 22. Teixeira está no poder há 23. Algumas tristezas
duram muito tempo, mas um dia acabam.
Sintonia Fina
-Com Texto Livre
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
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