5 de fev. de 2012

O prazer mórbido em atacar civis




“Você volta e manda sua presidenta falar comigo!” Foi a surpreendente respostado policial a Paulo Maldos – Secretário Nacional de Articulação Social que ainda foi baleado (bala de borracha) em Pinheirinho. (Pode-se dizer que o próprio Governo Federal foi baleado em Pinheirinho – na pessoa de Paulo Maldos.)



Quem assistiu o filme “A Morte e a Donzela” de Roman Polanski, certamente não esqueceu a cena em que o personagem de Ben Kingsley termina por confessar sua culpa em detalhes. A história se passa num país sul-americano imaginário que reconquistou a democracia depois de anos de ditadura sangrenta. Kingsley faz o papel de um médico que trabalhava para o regime militar examinando o estado de saúde das vítimas durante as sessões de tortura.

Sigourney Weaver faz a sobrevivente traumatizada que o reconhece pela voz e pelo cheiro como sendo seu algoz durante o período em que esteve presa. Está convencida de que ele a estuprou várias vezes após as sessões de tortura a que foi submetida, mantendo-a sempre de olhos vendados.


O filme de Polanski foi classificado como ficção, ao menos no Brasil. Mas não há nada fictício ali. A América do Sul foi palco de ditaduras militares por décadas. Milhões de pessoas foram presas e torturadas, milhares mortas ou “desaparecidas”.


Na Alemanha nazista, muitos prisioneiros serviam de cobaias para experimentos sobre os limites da dor, da fome, da sede, da pressão psicológica, dos abusos sexuais e outras formas de degradação humana que nem ousamos imaginar. Na verdade não havia limites para a imaginação dos “pesquisadores” de Hitler. Tudo era permitido fazer com os prisioneiros. Principalmente os que já estavam condenados a morte.

Quando um líder permite e estimula a crueldade – seja Hitler, Pinochet, Médici, Sadam Hussein ou… Alckmin – seus soldados dão vazão a instintos que desconheciam possuir até então. Não são apenas as armas, o uniforme e os acessórios que fazem um soldado. Sem a convicção de estar sendo útil a uma causa e acatando ordens superiores, o soldado não tem rumo nem razão de ser. Sem a hierarquia militar, não há soldado.


Em ação, um soldado pode se embriagar da violência que descarrega sobre o inimigo, seja ele um terrorista ou uma senhora usando uma bengala. A violência é uma droga. Literalmente. A adrenalina, o suor, o cheiro da vítima com medo, o grito de dor, o horror… tudo isso entorpece os sentidos do agressor. Em circunstâncias mais agudas, chega a ser uma forma de prazer mórbido.


A operação militar em Pinheirinho foi preparada com 4 meses de antecedência. Houve treinamento, simulações, condicionamento psicológico dos soldados etc. A preparação da tropa foi muito mais intensa do que, por exemplo, a concentração de um time de futebol para a final de um campeonato.

Cada soldado foi “carregado” de motivação como se fosse uma pilha. Quando entrou em ação, como vimos quase que instantaneamente pelos vídeos que circularam na internet, sua carga de violência foi desproporcional à missão que lhe foi delegada. (Seria interessante descobrir como se comportaria caso a missão fosse cancelada na véspera ou em pleno “campo de batalha”…)


Quando iniciaram o ataque-surpresa, a expectativa dos soldados para a missão era tamanha, que simplesmente não aceitavam a “rendição do inimigo”. Não adiantou o povo levantar as mãos, gritar pelas mulheres, crianças e idosos como vários vídeos mostraram.

Pura selvageria. Bombas, tiros, gás lacrimogêneo, spray de pimenta, cassetetes avançando roboticamente… os soldados de Alckmin pareciam selvagens em transe enfrentando inimigos extremamente perigosos. E eram apenas homens, mulheres e crianças que viviam num terreno baldio. Se as balas não fossem de borracha, teriam atirado igualmente, sem vacilar.

O personagem de Ben Kingsley em “A Morte e a Donzela” confessou: “As mulheres que estuprei eram como carne fresca bem ali, ao meu alcance. No inicio ainda estava inseguro, mas aos poucos – convivendo com sua fragilidade e a impunidade que o regime militar me assegurava – descobri o prazer de subjugá-las, ser o dono de seus destinos.

Servi-me de seus corpos quantas vezes desejei, sem nenhum remorso”.
A barbárie – como Dilma chamou a ação contra o bairro de Pinheirinho – foi veiculada pela mídia internacional de forma mais honesta que a da mídia local. Já chegou à ONU e OEA. Vai custar muito caro a Alckmin.

Já em São Paulo, caso se candidate a mais algum cargo público, vai sangrar consideravelmente em seu fiel eleitorado. Além disso, tenho com meus botões que perdeu 2 mil votos, assim que seus 2 mil soldados acordaram no dia seguinte, depois de uma “merecida” noite de sono, e olharam para suas respectivas famílias.
Quando foi eleito governador, Alckmin também recebeu o cargo de Comandante

Em Chefe da Polícia do Estado de SP. Portanto, ao assistimos às dezenas de vídeos que mostram o ataque insano à população de Pinheirinho, não devemos enxergar apenas soldados perversos agredindo civis.
Acima de tudo, aqueles soldados eram a mão de Alckmin atendendo a interesses imobiliários ligados ao terreno. Naquele momento, o Governo Federal já se aproximava de uma solução definitiva que priorizava a permanência da população e a urbanização da favela. Por isso o ataque surpresa, rápido e traiçoeiro.

O objetivo era “limpar os humanos” da área em menos de 24 horas. Derrubar as casas, destruir móveis e eletrodomésticos inclusive, foi a maneira de enterrar qualquer possibilidade do terreno voltar às mãos de seus moradores por vias legais.


Supondo-se que a decisão da juíza Márcia Loureiro em ordenar inapelavelmente a desocupação de Pinheirinho, fosse em cumprimento ao seu dever, sem favorecer interesses ocultos de personagens igualmente ocultos – o que requer um gigantesco esforço de boa vontade – Alckmin era o único que poderia se recusar a cumpri-la até garantir a integridade física e moral daquelas familias e esgotar todas as possibilidades de viabilizar-lhes a permanência em seus lares.

Mostraria-se, assim, à altura do cargo que recebeu das urnas. Seja qual fosse a instância, a liminar o recurso e toda essa pilha de regras jurídicas que no final das contas sempre contemplam os mais ricos. Na ordem das prioridades, antes de mais nada e acima de tudo, é dever de todo governante proteger seus governados.

As armas de sua polícia são instrumentos que devem ser usados para DEFENDER a população, jamais para atacá-la. E não estamos falando aqui de assaltante, traficante, estuprador ou assassino, mas de famílias: pais, mães e filhos – as células base da sociedade.

Por tudo isso, Alckmin deveria ser destituído do governo de São Paulo. Provavelmente, o “conjunto da obra” de sua gestão repressiva e autoritária represente o encerramento de sua carreira política. Pois, ao contrário do que ele e seus assessores calculam, Pinheirinho não será esquecido. 




 
Virá à tona sempre que se ouvir o nome de Alckmin. 
O governador tornou-se o “tal” que atacou covardemente 1.660 famílias de um bairro paulista que tinha o nome de Pinheirinho.

Sintonia Fina
Fonte - O que será que me dá?

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