Foto: Felipe L. Gonçalves/Edição/247
Vice-presidente discretíssimo é o principal arquiteto de uma disputa bilionária entre o banco e a Previ; numa de suas raríssimas imagens, ele (à direita) aparece ao lado de Ricardo Sérgio de Oliveira, heroi do livro Privataria Tucana
Em sua edição de hoje, o jornal Folha de S. Paulo traz como principal destaque do caderno “Poder” a notícia de que a “disputa política no Banco do Brasil preocupa o governo”. Esta guerra, atômica. De um lado, há quem acuse o grupo de comando do Banco do Brasil, formado pelo presidente Aldemir Bendine e pelos vices Paulo Caffarelli e Ricardo Oliveira, de tentar derrubar o presidente da Previ, Ricardo Flores. De outro, Flores também é acusado de tramar a queda de Bendine. Detalhe: a Previ, fundo de pensão dos funcionários, é a maior acionista do Banco do Brasil. Ou seja: briga de cachorro grande, para ninguém botar defeito.O clima é extremamente tenso e respinga no ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já vive uma crise particular, após as denúncias de corrupção na Casa da Moeda, que derrubaram Luiz Felipe Denucci. Já há quem atribua as denúncias contra Mantega a alas insatisfeitas do Banco do Brasil.
Mas o fato é que essa crise interna no BB tem nome e sobrenome. E ela se chama Ricardo Oliveira, personagem que ocupa a vice-presidência de Governo da instituição.
Para quem não o conhece, Ricardo Oliveira é hoje quem, de fato, comanda o Banco do Brasil. Amigo de seu quase homônimo Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área internacional do BB e personagem principal do livro “Privataria Tucana”, foi ele quem conseguiu nomear os dois últimos presidentes do Banco do Brasil – Lima Neto e Aldemir Bendine – graças às suas boas relações com duas eminências do PT: o ministro Gilberto Carvalho e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Estrategista, e apaixonado pelas batalhas da Segunda Guerra Mundial, Ricardo Oliveira é um personagem fascinante que desconcerta seus interlocutores ao, logo no primeiro diálogo, louvar as boas qualidades da Alemanha nazista – especialmente a SS, a polícia secreta, e seus trabalhos na área de inteligência. Foi Oliveira quem tentou ampliar seus domínios, na virada do governo Lula para o governo Dilma, ao planejar a ascensão de Bendine ao comando da Vale. Só que o plano inicial previa que Paulo Caffarelli e não Ricardo Flores se tornasse presidente da Previ – o segundo, ao contrário do que Ricardo Oliveira imaginava, não lutou para que Bendine se tornasse presidente da Vale.
E foi assim, já no início do governo Dilma, que teve início uma guerra fria o Banco do Brasil e a Previ.
Ricardo Oliveira, por sua vez, tomou outras decisões que amplificaram a guerra. Como não viaja em voos de carreira – ele só voa raramente, e em jatinhos –, o homem forte do BB arquitetou a transferência da área de marketing de Brasília para São Paulo, para que pudesse controlar mais de perto as decisões. O plano, no entanto, foi brecado pela resistência de funcionários e também de autoridades do Distrito Federal, como o governador Agnelo Queiroz. Além disso, a própria presidente Dilma não havia sido informada.
Como a derrota de Oliveira vazou para a imprensa, a ala de comando do banco passou, novamente, a atribuir os problemas à disputa com a Previ, de Ricardo Flores.
Em seguida, veio a demissão de Allan Toledo, um dos quadros mais preparados do Banco do Brasil, que era vice-presidente da área internacional e também de pessoa jurídica. Toledo, de fato, pensava em sair e tinha convites do setor privado, como ainda tem. Mas sua demissão foi precipitada pela paranoia de Ricardo Oliveira, que enxerga fantasmas em várias áreas do Banco do Brasil e tem afastado todos aqueles com quem vislumbra qualquer sinal de proximidade com Ricardo Flores.
O ponto mais baixo dessa disputa foi uma nota plantada na coluna Painel, da Folha de S. Paulo, dando conta de que a direção do BB havia comunicado ao Coaf, órgão do Ministério da Fazenda, movimentações atípicas na conta de Allan Toledo. Ou seja: uma tentativa de queimá-lo não só no Banco do Brasil, mas também no setor privado.
Não se sabe de onde partiu a insinuação infame no Painel, mas o fato é que Ricardo Oliveira começou a se movimentar no meio jornalístico, depois de a Mapfre, seguradora espanhola ligada ao BB, ter contratado a Companhia de Notícias, assessoria de imprensa do empresário João Rodarte. O que tornou ainda mais delicada a situação do ministro Guido Mantega, pois essa movimentação na imprensa explicitou que uma guerra interna no Banco do Brasil poderia vir a derrubá-lo. Numa coluna recente, Melchiades Filho, da Folha, escreveu que Mantega se tornou alvo porque há uma disputa pelo comando de grandes negócios no BB e na Previ.
Se não bastasse a demissão de Toledo, houve ainda outro fato capitaneado por Ricardo Oliveira: o strike recente na diretoria que provocou a aposentadoria forçada de quatro diretores e 13 mudanças no alto comando do BB.
Definitivamente, Ricardo Oliveira partiu para sua ofensiva final. Ordenou a blitzkrieg, talvez por perceber que seus pontos de apoio no governo, como o ministro Gilberto Carvalho, não estejam tão sólidos como antes.
Na reportagem de hoje, a Folha de S. Paulo publica um quadro com os principais personagens da crise. Seriam eles: Aldemir Bendine, Ricardo Flores e o que o jornal chama de “setores do PT”.
Não. O principal personagem desta crise se chama Ricardo Oliveira, que não se deixa fotografar. Como ele recusou insistentes pedidos do 247 para uma entrevista formal, com foto, a única disponível é esta em que ele aparece com Ricardo Sérgio de Oliveira. No passado, o BB publicava em seu site fotos de todos os seus vice-presidentes, exceto a de Oliveira, tamanha era a sua preocupação com a preservação da própria imagem.
Desafetos de Oliveira garantem que a amizade com Ricardo Sérgio de Oliveira permanece até hoje e que os dois se encontram com frequência nos melhores restaurantes de São Paulo. Assim como também seriam frequentes os encontros de Oliveira com Delúbio Soares. Ou seja, ele teria um talento único para trafegar, com desenvoltura, entre os tesoureiros de dois partidos: PT e PSDB.
Mas sua força vem sendo progressivamente reduzida. Uma reportagem recente da revista Veja chamava o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, de Severino Maia e o acusava de lutar por cargos de quinto escalão no BB. Possesso, Maia enxergou as digitais de Oliveira na matéria publicada em Veja. Ao ser questionado sobre o caso, o também deputado petista, Cândito Vaccarezza, diagnosticou o problema. Disse que era a turma do BB tentando tomar o comando da Previ.
A Alemanha nazista quase venceu a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, perdeu.
Sintonia Fina
via Brasil 247
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