Folha deixa Kamel nu em Pinheirinho
O Sintonia Fina junto com o Conversa Afiada reproduz crítica da Folha à cobertura parcial e partidária do Ali Kamel à obra filantrópica do grande financista Naji Nahas em Pinheirinho:
Jornalismo de guerra
VANESSA BARBARA
Pode não parecer, mas o Código
Brasileiro de Trânsito determina que os pedestres têm preferência, já
que são o elo mais fraco do sistema -em comparação a carros, motos,
caminhões. A imprensa deveria seguir lógica parecida: quando há um
megaespeculador de um lado e 6.000 sem-teto de outro, a prioridade de
entrevista seria dos últimos, que não têm tanto poder para se fazer
ouvir.
Mas não é o que está havendo na
cobertura televisiva da desocupação do Pinheirinho, uma área em São
José dos Campos habitada há oito anos por 1.600 famílias. O terreno
pertence à massa falida do grupo Selecta, do empresário Naji Nahas. É
avaliado em R$ 180 milhões e foi objeto de desavenças em diferentes
esferas do Judiciário, até que, há cerca de duas semanas, a Justiça
estadual decretou a reintegração de posse.
No dia 22, o “Fantástico”
dedicou pouco mais de dois minutos à cobertura. Abriu a reportagem com
cenas dos policiais escancarando um portão e adentrando o terreno. Voz
em off: “Seis e meia da manhã, a tropa de choque invade o Pinheirinho”.
Deu para imaginar os policiais combinando com a equipe da Globo:
um-dois- três-e-já.
A ação contou com um efetivo de
2.000 homens, dois helicópteros, 220 carros, 40 cães e cem cavalos. “A
situação ficou fora de controle”, explicou a locutora, e a cena era de
um sujeito jogando pedra contra policiais.
“Os moradores atearam fogo em prédios públicos e em oito carros, entre eles o da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo.”
Aparece a repórter, com um
colete a prova de balas: “Segundo policiais que entraram aqui nesta
área, esses barracos todos estão abandonados porque eles serviam para o
tráfico de drogas. Aqui era uma espécie de cracolândia, onde se vendia e
consumia droga”.
Outra coisa que ficamos sabendo
pelo “show da vida”: em protesto, os sem-teto bloquearam por meia hora
uma das pistas da via Dutra. Um homem foi atingido por um tiro de arma
de fogo durante a operação, mas a polícia diz que só utilizou balas de
borracha. Final da reportagem.
Nada foi dito sobre a presença
de tanques de guerra e de soldados da cavalaria com suas espadas. Nada
foi dito sobre o uso de força contra idosos e crianças e nem sobre o
destino dos desalojados. Alguns receberam da Prefeitura de São José dos
Campos passagens rodoviárias para seus “Estados de origem”.
Só que muitos são paulistas.
Sintonia Fina
Nenhum comentário:
Postar um comentário