Num dos espaços virtuais em que se discutiu meu artigo Dilma paga pra ver e faz Clubes Militares engolirem blefe,
um comentarista assim resumiu o episódio da provocação ultradireitista
e a firme resposta da presidente Dilma Rousseff: "os militares
disseram o que queriam, mesmo proibidos para tanto, e a presidente só
lhes passou um pito. Muito bonitinho, entre mortos e feridos
salvaram-se todos".
Como
não foi atitude isolada --muita gente na esquerda deixou de reconhecer
a importância de não termos desta vez engolido o sapo, mas sim o
enfiado na goela dos inimigos--, resolvi compartilhar com vocês o
desabafo que postei no CMI:
Assim como a Roselyne do filme, nossa Dilma domou os leões... |
Foi exatamente o que o Lula
deixou de fazer em 2007, quando o Alto Comando do Exército lançou uma
nota oficial que presidente nenhum poderia aceitar. Quem quiser
recordar o episódio, pode acessar aqui.
A única atitude aceitável, naquela circunstância, era a exoneração imediata dos signatários.
Para não ficarmos em exemplos
da esquerda, até o ditador Geisel agiu assim quando desobedecido pelo
comandante do II Exército e, adiante, quando desafiado pelo ministro do
Exército. Nos dois episódios cortou o mal pela raiz e, com isto,
garantiu o prosseguimento do seu projeto de abertura política.
...cujos rugidos, desta vez, viraram miados. |
O Governo Lula medrou
e, ao negar apoio à proposta de revogação da anistia de 1979
(defendida pelo Tarso Genro e pelo Paulo Vannuchi), selou o destino da
luta pela punição dos torturadores: ela verdadeiramente acabou
naquele início de setembro, há quatro anos e meio. Tudo que veio
depois foram iniciativas antecipadamente condenadas ao fracasso.
Então, depois de tantos recuos, finalmente temos uma presidente sem medo de bicho papão. Ela pagou pra ver e todos nós pudemos constatar que era blefe.
Em 2007 eu também achava que era blefe. Nada indicava que o Alto Comando tivesse o aval da tropa para alguma aventura institucional; e as mãos que movimentam os cordéis dos golpes no Brasil (o grande capital e os EUA) nem de longe estavam insatisfeitas com o Lula, pois seus interesses vinham sendo escrupulosamente contemplados. Para que mudar?
No entanto, daquela vez o Lula
não pagou pra ver, e deu no que deu. Estamos até hoje morrendo de
inveja dos vizinhos que ousaram botar os gorilas na jaula.
Pouco
importando que a Dilma não seja do meu partido, desta vez eu fiquei
muito feliz ao ver os fardados submetidos à autoridade presidencial.
Isto deveria ser comemorado por toda a esquerda, sem sectarismo.
Isto deveria ser comemorado por toda a esquerda, sem sectarismo.
Como, sem sectarismo, toda a
esquerda deveria ter comemorado, p. ex., a vitória no Caso Battisti e a
instituição do Dia dos Mortos e Desaparecidos Políticos em SP.
Já que conquistamos poucas vitórias, deveríamos pelo menos valorizar as que obtemos.
Sintonia Fina
- Náufrago da Utopia
Um comentário:
O RDE, sempre arguido para conformar a tropa, deve ser obedecido pelo comando também. Nós o lemos por curiosidade jornalística. Eles, os de farda, lhe devem obediência disciplinar. Não a querem, se exonerem e venha pra planície terçar argumentos de mãos desarmadas. Gesto de autoridade presidencial, a quem cabe, finalmente, o comando das Forças Armadas, que apenas são organismos de serviço público pagas pelo povo. Parabéns à presidente Dilma.
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