Foto: DIVULGAÇÃO
Depois de PHA ter popularizado o Partido da Imprensa Golpista, Reinaldo Azevedo responde com os JEGs - Jornalistas da Esgotosfera Governista; enquanto jornalões defendem linhas editoriais tucanas, blogueiros encampam defesa do governo; não pode existir independência no jornalismo brasileiro
As paixões e os antagonismos genuínos são fundamentais para consolidar a democracia. Essa é a tese de uma das principais pensadoras políticas contemporâneas, a belga Chantal Mouffe. Em seu instigante livro On The Political (Routledge, 2005), ela defende que deliberações racionais não são adequadas ao mundo político, onde o confronto de ideias e identidades é permanente. São as emoções que acabam guiando o fazer política.
Ora, Mouffe não conhece o âmago da política brasileira, mas sua análise se encaixa perfeitamente bem em nossa realidade. E isso não é necessariamente bom. Por aqui, petralhas e tucanalhas se digladiam diuturnamente, sem notar como são parecidos em atitudes e até objetivos. Tem mensalão do PT e privataria tucana. Os militantes de um partido atacam a corrupção do outro. Com paixão, defendem “ideologias” ou, quiçá, projetos de poder.
Os embates ficam ainda mais explosivos, quando se acrescenta o quarto
poder no ringue. De um lado, a imprensa de papel, tradicional, diz que
está fiscalizando e, por isso, investiga “supostos esquemas” e cobra
renúncia de ministros do governo Dilma envolvidos em “escândalos”. De
repente, seis ministros já caíram por “suspeitas de corrupção”. A
imprensa dorme aliviada todas as noites por ter feito um bem para o
País. Aham.
De outro lado, a blogosfera se rebela.
Hoje, com as redes sociais
como efetivos canais de distribuição, faz sua versão circular. “Não
apresentaram nenhuma denúncia contra o ministro. É coisa do PIG" – dizem. O Partido da Imprensa Golpista
está por trás de todo esse levante antiPT. É Globo, Folha, Veja,
Estadão. Em vez de reunião de pauta, o PIG se encontra em seu QG
secreto, no subsolo da Esplanada, para tramar que ministro vai derrubar
amanhã e depois. Aham.
A expressão PIG foi popularizada por Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada,
e replicada por diversos blogueiros de “esquerda” e militantes
petistas. Hoje é jargão. O PIG quer que o PSDB volte ao comando do
Brasil para que seus interesses sejam defendidos. São as poderosas
corporações contra os pobres trabalhadores, curiosamente representados
hoje pelos poderosos trabalhadores.
Pois bem, o representante mais explícito do PIG seria o colunista da Veja e blogueiro Reinaldo Azevedo. No último domingo, 26, ele se apropriou de uma nova sigla, apresentada por um leitor, e já está viralizando. Trata-se dos JEGs, os Jornalistas da Esgotosfera Governista. Nesse balaio, entrariam o inimigo número 1 do PIG – o próprio PHA –, o blogueiro Luís Nassif e publicações como Carta Capital.
Certamente, os blogueiros progressistas – ou sujos, como definiu o
atual pré-candidato do PSDB a prefeito de São Paulo José Serra – também
fazem parte dessa esgotosfera. Ou seja, partindo das linhas de
pensamento (e constatação) de PHA e Rei, PIG e JEGs estão dominando a imprensa brasileira. Todos têm um lado – claramente ou mascaradamente defendido.
Tal como os militantes vedam os olhos para a corrupção do partido que
defendem e crescem os olhos para denunciar a do adversário, os
jornalistas profissionais e os jornalistas cidadãos (da blogosfera)
passam a se pautar por um só lado, seja das poderosas corporações ou dos
poderosos trabalhadores. O que conta são os interesses políticos,
partidários e econômicos, carregados de síndrome de poliana no caso dos
blogs e de cinismo no caso dos jornalões.
E a independência, hein? Como é que fica? Onde se
encontra jornalismo independente, seja praticado pelas redações ou por
blogs? Em um cenário tomado de paixões, antagonismos e até baixarias, o otimismo de Mouffe não cola.
Os jornalistas brasileiros precisam aprender a ser mais que porcos e
jegues. O elemento-chave para superar a dicotomia PIG X JEGs é o bom
senso. E o senso crítico. A autocrítica. Uma imprensa livre e
independente é aquela que sabe criticar qualquer governo e qualquer
oposição, não a partir de seus interesses corporativos ou “ideológicos”.
Mas sim com os olhos da sociedade, do que os brasileiros esperamos de
nossos políticos e precisamos de nossos governantes.
Isso é ser efetivamente um quarto poder.
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