Maurício Lopes Lima |
Cabeça de fora
Parece que o Brasil gosta de tentar repetir a história, o que,
contrariando um pensador famoso, não acaba em farsa, mas em tragédia.
Alguns militares resolveram botar a cabeça de fora fazendo pensar em
procedimentos dos anos 1950 e 1960. O almirante Ricardo Antonio da Veiga
Cabral, presidente do Clube Naval, o general Renato Cesar Tibau da
Costa, presidente do Clube Militar, e o brigadeiro Carlos de Almeida
Baptista, presidente do Clube de Aeronáutica, publicaram nota
(manifesto?) de advertência contra as posições das ministras Maria do
Rosário e Eleonora Menicucci em relação à possibilidade de ações na
Justiça em busca de punição a torturadores do regime militar imposto em
1964.
Os militares queixam-se de que a presidente prometeu governar para
todos, sem "discriminação, privilégios ou compadrio", mas nada estaria
fazendo para calar a boca das auxiliares. Diz o manifesto: "Na
quarta-feira, 8 de fevereiro, a ministra da Secretaria de Direitos
Humanos concedeu uma entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no dia
imediato no jornal Correio Braziliense, na qual mais uma vez asseverava a
possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos
ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na
Justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à
semelhança ao que ocorre em países vizinhos. Mais uma vez esta
autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF,
instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E, a presidente
não veio a público para contradizer a subordinada". Uma coisa é certa: o
pau vai comer já, já.
O Brasil é um país diferente, superior aos outros, o único que não pune
seus torturadores. Não nos rebaixamos ao nível da Argentina e do
Uruguai. Não aceitamos pressões de organismos internacionais rastaqueras
como a ONU. Nossos torturadores são intocáveis. Essa é a nossa
discriminação, esses são os privilégios que damos, esse é o compadrismo
que praticamos. O fato de que os guerrilheiros foram punidos com prisão,
tortura, exílio ou morte, enquanto os torturadores nada pagaram, não
nos constrange. Nossos militares são atuantes e politizados: "Os Clubes
Militares expressam a preocupação com as manifestações de auxiliares da
presidente sem que ela, como a mandatária maior da Nação, venha a
público expressar desacordo com a posição assumida por eles e pelo
partido ao qual é filiada e aguardam com expectativa positiva a postura
de presidente de todos os brasileiros e não de minorias sectárias ou de
partidos políticos".
Nosso único dogma é: deixem nossos torturadores em paz. Eles prestaram
relevantes serviços à Nação ajudando a salvar-nos de uma ditadura de
esquerda com uma ditadura de direita, praticante, em nome da democracia e
da civilização, de métodos bárbaros e rigorosamente antidemocráticos
jamais discutidos diante de um tribunal de Justiça. Nossa ditadura foi
implantada contra um presidente legal cujo grande pecado foi ter tentado
reformar um país atolado no atraso, sendo que, em algumas regiões, a
expectativa média de vida andava pelos 35 anos de idade e 77.737
latifundiários detinham 58% das terras de todo o país. Um espetáculo de
desigualdade e barbárie.
Carlos Alberto Brilhante Ustra |
Sintonia Fina
_Esquerdopata
Nenhum comentário:
Postar um comentário