Merval
Pereira, Miriam Leitão, Sardenberg, Eliane Catanhede, Dora Kramer e
outros mais necessitam ser analisados pelo que são: intelectuais
orgânicos do totalitarismo financeiro. O conteúdo de suas colunas
representa a tradução ideológica dos interesses do capital financeiro.
A
leitura diária dos jornais pode ser um interessante exercício de
sociologia política se tomarmos os conteúdos dos editoriais e das
principais colunas pelo que de fato são: a tradução ideológica dos
interesses do capital financeiro, a partitura das prioridades do
mercado. O que lemos é a propagação, através dos principais órgãos de
imprensa, das políticas neoliberais recomendadas pelas grandes
organizações econômicas internacionais que usam e abusam do crédito, das
estatísticas e da autoridade que ainda lhes resta: o Banco Mundial
(BIrd), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do
Comércio (OMC). É a eles, além das simplificações elaboradas pelas
agências de classificação de risco, que prestam vassalagem as editorias
de política e economia da grande mídia corporativa.
Claramente
partidarizado, o jornalismo brasileiro pratica a legitimação adulatória
de uma nova ditadura, onde a política não deve ser nada além do palco
de um pseudo-debate entre partidos que exageram a dimensão das pequenas
diferenças que os distinguem para melhor dissimular a enormidade das
proibições e submissões que os une. É neste contexto, que visa à
produção do desencanto político-eleitoral, que deve ser visto o
exercício da desqualificação dos atores políticos e do Estado. Até 2002,
era fina a sintonia entre essa prática editorial e o consórcio
encastelado nas estruturas de poder. O discurso "modernizante" pretendia
- e ainda pretende - substituir o "arcaísmo" do fazer político pela
"eficiência" do economicamente correto. Mas qual o perigo do Estado para
o partido-imprensa? Em que ele ameaça suas formulações programáticas e
seus interesses econômicos?
O
Estado não é uma realidade externa ao homem, alheia à sua vida, apartada
do seu destino. E não o pode ser porque ele é uma criação humana, um
produto da sociedade em que os homens se congregam. Mesmo quando ele
agencia os interesses de uma só classe, como nas sociedades
capitalistas, ainda aí o Estado não se aliena dos interesses das demais
categorias sociais.
O
reconhecimento dos direitos humanos, embora seja um reconhecimento
formal pelo Estado burguês, prova que ele não pode ser uma instituição
inteiramente ligada aos membros da classe dominante. O grau maior ou
menor da sensibilidade social do Estado depende da consciência humana de
quem o encarna. É vista nesta perspectiva que se trava a luta pela
hegemonia. De um lado os que querem um Estado ampliado no curso de uma
democracia progressiva. De outro os que só o concebem na sua dimensão
meramente repressiva; braço armado da segurança e da propriedade.
O
partido-imprensa abomina os movimentos sociais os sindicatos (que não
devem ter senão uma representatividade corporativa), a nação, antevista
como ante-câmara do nacionalismo, e o povo sempre embriagado de
populismo. Repele tudo que represente um obstáculo à livre-iniciativa, à
desregulamentação e às privatizações. Aprendeu que a expansão
capitalista só é possível baseada em "ganhos de eficiência", com
desemprego em grande escala e com redução dos custos indiretos de
segurança social, através de reduções fiscais.
Quando
lemos os vitupérios dos seus principais articulistas contra políticas
públicas como Bolsa Família, ProUni e Plano de Erradicação da Pobreza,
dentre outros, temos que levar em conta que trabalham como quadros
orgânicos de uma política fundamentalista que, de 1994 a 2002,
implementou radical mecanismo de decadência auto-sustentada,
caracterizada por crescentes dívidas, desemprego e anemia da atividade
econômica.
Como arautos de uma
ordem excludente e ventríloquos da injustiça, em nome de um suposto
discurso da competência , endossaram a alienação de quase todo
patrimônio público, propagando a mais desmoralizante e sistemática
ofensiva contra a cultura cívica do país. Não fizeram- e fazem- apenas o
serviço sujo para os que assinam os cheques, reestruturam e demitem.
São intelectuais orgânicos do totalitarismo financeiro, têm com ele uma
relação simbiótica. E é assim que devem ser compreendidos: como agentes
de uma lógica transversa.
Merval
Pereira, Miriam Leitão, Sardenberg, Eliane Catanhede, Dora Kramer e
outros mais necessitam ser analisados sob essa perspectiva. É ela que
molda a ética e o profissionalismo de todos eles. Sem mais nem menos.
Sintonia Fina
via Com Texto Livre
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
(Cláudio Abramo)
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