15 de jan. de 2012

Alckmin devia ir ao Rio aprender a enfrentar a tragédia do crack



Nos últimos dias, o país assistiu a “aulas” do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Mas não foram as aulas de democracia que ele anunciou que gostaria de dar aos alunos da USP que resistiram à entrada de uma polícia militarizada na Cidade Universitária. Foram aulas de como não lidar com a Segurança Pública.

Na segunda-feira, o país assistiu ao “preparo” da Polícia que o governo paulista colocou na USP. Se aquele policial que saca a arma e esbofeteia por qualquer coisa representa o padrão dos policiais que estariam “policiando” a universidade, os alunos têm muita razão ao reclamar.
Mas a grande aula de incompetência, insensibilidade, preconceito e irresponsabilidade que o governador de São Paulo acaba de dar pôde ser vista na desastrada operação policial na Cracolândia paulistana.

Parece ocioso detalhar os defeitos da operação, mas incluem a criação de um grave problema de Segurança em regiões que não o tinham na dimensão que agora têm e a constatação de que seu único objetivo foi o que tem sido ventilado pela imprensa, o de mostrar serviço sem saber como.

A reação negativa dos paulistanos à ação policial na Cracolândia vem sendo tão intensa que a imprensa amiga do governador do Estado de São Paulo apressou-se em dizer que ele “Não sabia” de operação daquele porte.

Parece piada. A cada vez que um tucano diz que “não sabia” de alguma mazela ética ou administrativa, logo vem à mente a exigência que o PSDB e sua imprensa faziam a Lula a cada vez que ele negava ter conhecimento de alguma coisa.

É possível promover uma ação com centenas e centenas de policiais que certamente interferiria no centro da capital da forma como se viu sem que ninguém entrasse no gabinete do governador e avisasse nada? Se for assim, está explicado por que a situação da Segurança em São Paulo chegou ao ponto que chegou.

Mas não percamos mais tempo. Passemos logo à lição da qual o governador Alckmin tanto precisa. Afinal, se ele acredita em “dor e sofrimento” como método, precisa voltar ao jardim da infância da administração pública.

Olhe para o Rio de Janeiro, governador. Enquanto o senhor bate cabeça e indigna São Paulo, seu colega carioca preferiu fazer da capital fluminense a 1ª cidade a adotar o plano do governo federal contra o crack.

Uma imensa diferença de mentalidade pode ser vista logo de cara. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, a delegada de Combate às Drogas recém-nomeada, Valeria de Aragão Sádio, de 35 anos, diz que “usuário não é problema de polícia”, mas “um problema de saúde e assistência”.

Valeria participou de todas as 63 operações realizadas em cracolândias do Rio desde março de 2011, quando assumiu a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Quantas operações ocorreram em São Paulo, no período? Vai começando, pois, a ficar clara a razão da situação por aqui.

As ações conjuntas da Secretaria Municipal de Assistência Social e da Polícia Militar resultaram no recolhimento de 3.195 pessoas a centros de tratamento. Em São Paulo, esse é o número aproximado de abordagens causadoras de “dor e sofrimento”, ou seja, a polícia aborda o usuário de crack que tenta sentar-se ou deitar-se na rua, impedindo que pare em algum lugar.

Desse total de 3.195 usuários de crack recolhidos no Rio, 475 eram crianças ou adolescentes e 104 foram internados de maneira involuntária. Será que os viciados do Rio são mais permeáveis a aceitar tratamento do que os de São Paulo? Nem 5% dos viciados cariocas recolhidos resistiram.

A jovem delegada explica que os viciados são retirados de suas casas ou das ruas só quando não há parentes por perto e depois que uma equipe médica avalia o grau de dependência química. A decisão não é da delegada ou do secretário. Ela relata que “em nenhuma das operações houve tiro. Nem de borracha”.

Em São Paulo, é só tiro. Uma viciada recebeu um tiro de bala de borracha na boca. As denúncias de abuso da polícia se sucedem.

Como o governo do Rio e o governo federal estão fazendo o que não se consegue em São Paulo? Primeiro, através das pessoas que são escaladas para a missão.

O plano nacional contra o crack que o governo e a prefeitura do Rio adotaram prevê três eixos: prevenção, cuidado e autoridade. A polícia atua como autoridade detendo o viciado e profissionais destacados para cuidado e prevenção assumem em seguida. Um fiscaliza o outro para evitar excessos da polícia.

Mas o importante é a dedicação. A delegada Valéria se feriu com a agulha de um usuário e precisou tomar coquetel antiaids. “No dia seguinte estava em outra operação. Mesmo vomitando, porque esse coquetel é barra-pesada”, diz ela, explicando que quem trabalha com usuário de crack está sujeito a ser xingado, agredido e a se ferir e que é preciso ter vocação.
Em São Paulo, nomeiam ex-torturadores para cuidar da Segurança Pública…

Antes de assumir o cargo, a delegada Valéria participou de reuniões com o governo federal sobre o Plano de Enfrentamento ao Uso do Crack anunciado por Dilma Rousseff. Em São Paulo, o governo local vem rejeitando parcerias há anos por não querer dividir eventuais sucessos e obviamente por discordar de táticas que dispensem “dor e sofrimento”.

O Estadão relata que a delegada não quis opinar sobre a situação em São Paulo, preferindo explicar que no Rio já estão em curso ações conjuntas da Polícia Civil e da Federal, convênios para seleção de profissionais de saúde e levantamento de estruturas disponíveis para abrigar usuários de crack e oferecer cursos de capacitação.

Dor e sofrimento? É isso o que Alckmin propõe para resolver essa tragédia que providencialmente, em ano eleitoral, teve a gentileza de deixar os paulistanos verem? Dor e sofrimento para quem? Cada vez mais paulistanos vão se dando conta de que não é só para os viciados. 

A incompetência tucana não poderia ter ficado clara em melhor hora.


Sintonia Fina
via  Blog da Cidadania.

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