Telegramas revelam que Brasil deu amplo apoio financeiro e diplomático aos primeiros anos do governo chilenoEm contrapartida, o Chile deu seu apoio a inúmeros candidatos brasileiros a cargos em órgãos internacionais
RUBENS VALENTE
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BRASÍLIA
O Brasil forneceu um amplo suporte econômico e diplomático aos primeiros anos da ditadura do general Augusto Pinochet no Chile.
É o que revela uma série de 266 telegramas confidenciais produzidos por diplomatas brasileiros entre 1973 e 1976.
Os
telegramas sigilosos foram enviados e recebidos pela Embaixada do
Brasil em Santiago do Chile e liberados pelo Itamaraty à Folha, que os
divulga no site do projeto "Folha Transparência".
Os documentos indicam que a ajuda brasileira veio logo após o golpe liderado por Pinochet (1915-2006) em 11 de setembro de 1973.
Em
novembro daquele ano, o Brasil, também governado por um ditador, Emílio
Médici (1905-1985), liberou US$ 50 milhões ao Banco Central chileno
para estimular exportações.
O socorro veio a pedido do Chile, que disse, por meio da chancelaria, se encontrar em "grave situação".
O
Brasil abriu linhas de financiamento na Cacex, a Carteira de Crédito
para Exportação do Banco do Brasil, para empresários interessados em
vender para o Chile, estimulou a venda de açúcar, ônibus, caminhões e
fragatas e acelerou a aquisição de cobre das jazidas chilenas.
De tal forma que passou, em 1976, ao posto de maior comprador externo de cobre, desbancando a Alemanha.
"É momento de concentrarmos aqui
nossas compras de cobre. Isso nos dará aqui uma influência e uma
expressão desvinculadas de quem governe o país", orientou o embaixador
brasileiro.
No campo diplomático,
o Brasil, a pedido da Junta Militar chilena, ocupou o status oficial de
"protetor dos interesses do Chile" no México, na Polônia e na
Iugoslávia.
Como esses países
condenaram o golpe chileno, o Brasil assumiu a tarefa de representar o
regime de Pinochet desde negociar a chegada de presos políticos a quitar
compromissos do serviço diplomático.
TROCA DE FAVORES
Os
telegramas também revelam o socorro que o Brasil deu ao Chile durante
discussões na Organização dos Estados Americanos a propósito da situação
dos direitos humanos no Chile -relatório de agosto contou 3.225 mortos
ou desaparecidos políticos.
Nos
foros internacionais, a diplomacia brasileira se absteve ou votou com o
Chile em resoluções que pudessem constranger Pinochet.
"O
projeto inicial bastante forte de moção condenatória do governo chileno
foi 'aguado' por iniciativa das delegações brasileira e argentina", diz
um telegrama de 1975 sobre sessão no Parlamento Latino-Americano.
Em contrapartida, Chile apoiou inúmeros candidatos brasileiros a cargos em organismos internacionais.
Os
telegramas descrevem ainda como o Brasil operou para financiar
aquisição, pelo Chile, de um sistema completo de comunicações para a
Interpol do Chile, cujo objetivo é capturar foragidos da Justiça de
outros países.
Documentos
liberados pelos EUA dizem que uma das principais ajudas do Brasil à
Operação Condor, um plano dos países latino-americanos para eliminar
opositores políticos, foi montar uma rede de telecomunicações.
Sintonia Fina
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
(Cláudio Abramo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário