Os
tucanos anunciam que a “musa das privatizações”, a economista Elena
Landau, vai coordenar a formulação de um diagnóstico do país e elaborar
uma nova agenda de proposições que servirão de base ao programa
partidário em futuras eleições. Em entrevista ao jornal Valor Econômico,
ela disse que “as privatizações foram muito boas para o país” e que tem
“orgulho de ter participado delas".
Falseia
a realidade ao citar como exemplo os “avanços obtidos em setores como o
de telecomunicações e o elétrico”, um desdastre se comparado à evolução
em outros países. Mesmo onde o Estado controla esses setores, os
avançoes são superiores aos do Brasil. Landau, como tucana bem
adestrada, repete a farsa de que o privado sempre vai bem e tudo que é
estatal vai mal. "A influência política é deletéria às empresas
[estatais]", disse, como se interesses muito mais escusos não
influenciassem os grupos privados.
Elena Landau
ficou conhecida por suas ligações explícitas com o banqueiro tucano
Daniel Dantas, figura central da confraria demolidora que se formou no
Brasil com o surgimento do PSDB. Quem conhece bem o tucanato sabe do que
ele é capaz. É o caso do jornalista Bob Fernandes, ex-redator-chefe da
CartaCapital e atualmente à frente da Terra Magazine, que, segundo o
jornalista do O Globo Ricardo Noblat, recebeu um documento que era
"dinamite pura". "Se divulgado, comprometerá o futuro político de alguns
dos mais emplumados tucanos", escreveu Noblat.
Na
ocasião, a revista disse que por não ter provas suficientes da
autenticidade do documento decidiu, "por ora", não publicá-lo. Mas
CartaCapital levantou algumas questões a respeito — por serem "públicas
e internacionalmente notórias". Uma delas saiu no Wall Street Journal,
na época, e definiu as relações de Dantas com o tucanato com essas
palavras: "A decisão do Citigroup (de afastar Dantas de seus negócios)
reflete o declínio na sorte (do banqueiro brasileiro) desde que o
esquerdista Partido dos Trabalhadores venceu as eleições em 2002. Seus
negócios prosperaram durante o governo anterior, com quem mantinha
relações próximas."
Manobras de FHC
O
jornal referia-se ao fato de Dantas ter se tornado o controlador ou
sócio de algumas das principais empresas privatizadas durante o governo
Fernando Henrique Cardoso (FHC). Segundo CartaCapital, o repórter do
Wall Street Journal deve ter se baseado em informações da imprensa
brasileira. A revista lembra que no dia 15 de maio de 2002, por exemplo,
o jornalista Fernando Rodrigues relatou em sua coluna na Folha de S.
Paulo — informação reproduzida outras vezes pelo mesmo jornal — um
encontro entre Dantas e o então presidente da República, FHC.
A
pauta era um pedido do banqueiro para que o governo o apoiasse na briga
contra os fundos de pensão, liderados pela Previ, pelo controle das
empresas de telefonia privatizadas. "À época, diretores da Previ eleitos
pelos pensionistas e ligados ao PT queriam fazer uma devassa para
entender os motivos que levaram o fundo a investir tanto dinheiro em uma
sociedade na qual só Dantas dava as cartas", escreveu CartaCapital.
Logo
depois, sob a justificativa de enquadrar a Previ às normas de pagamento
de Imposto de Renda, o governo FHC anunciou uma intervenção na
fundação, só encerrada após a posse de Lula seis meses depois. Algum
tempo depois, começaram a circular boatos de que havia um dossiê contra o
prefeito paulistano e concorrente de Lula à Presidência da República em
2002, o tucano José Serra. Seriam novas revelações sobre a sociedade
entre Verônica Serra, filha do prefeito, e a irmã de Dantas, também
chamada Verônica. CartaCapital revela que no fim dos anos 1990 as duas
foram sócias no portal Decidir.com, sediado em Miami.
Confraria demolidora
As
peripécias da confraria demolidora tucana são bem conhecidas. Mas elas
se destacam mesmo nas privatizações. (Um caso pouco falado é o da
privatização do Banespa, uma autêntica patifaria. Serra liderou uma
revoada de tucanos para o governo de Luiz Antônio Fleury com a única
finalidade de tomar posse do banco paulista.) Talvez por isso Dantas
avisou que se fosse convocado a depor em algunas daquelas extravagantes
CPIs que surgiram no rastro da manipulção midiática do “mensalão” seria
capaz de "derrubar a República".
Há
na CPI dos Correios documentos que teriam revelado o repasse de cerca
de R$ 150 milhões (estima-se muito mais) das empresas controladas por
Dantas a agências de Marcos Valério, no esquema de “caixa-dois” criado
pelos tucanos. "A digitais do Dantas surgiram na lista de depositantes",
disse na ocasião a então senadora Ideli Salvati (PT-SC). Para ela,
deixara de ser mera suposição a possibilidade de Dantas estar na gênese
daquela crise política. Valério teria dito que o banqueiro pediu-lhe
para intermediar encontros com representantes do PT.
Quando
Dantas depôs na CPI, sequer tocou em algo que sustenta a República. A
bancada do ex-PFL, atualmente DEM, se apresentou afiada para fazer a
defesa do banqueiro. O PSDB também ficou na miúda. Isso porque, se não
bastassem os altos interesses investidos nos negócios administrados por
Dantas, havia uma nítida ligação ideológica entre eles. O banqueiro era
tido por Mário Henrique Simonsen — ícone do liberalismo brasileiro —
como um de seus três melhores alunos na Fundação Getúlio Vargas.
Dantas como referência
Quando
Elena Landau comandou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), Dantas era uma de suas referências. Tanto que a “musa
das privatizações” mal deixou o cargo e passou a prestar consultoria, em
tempo quase integral, ao banco de Dantas. Ela pertence àquele grupo que
marcou época no reinado de FHC, formado por figuras como Pérsio Arida,
André Lara Rezende, Edmar Bacha, Eduardo Modiano, Armínio Fraga, Gustavo
Franco, Edward Amadeo e o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Era
a "turma dourada" do Departamento de Economia da PUC do Rio de Janeiro
do final da década de 1970 e início dos anos 1980, neoliberal à raiz do
cabelo. Alguns fanáticos, muitos inescrupulosos. Eles comandaram aquele
processo pelo qual os interessados em comprar empresas do Estado iam
buscar dinheiro no BNDES. Na crise, a mídia inflou as denúncias contra
os aliados do governo e ignorou as tramas tucanas operadas por Landau e
Dantas. A volta dela à cena como vértice da construção de um projeto
tucano é um claro sinal de que o tucanato não cansa de tentar levar o
país a voltar a andar de marcha-ré.
Sintonia Fina - Dilma
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
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