5 de dez. de 2011

Máfia do carvão em Minas usou avião do banqueiro Daniel Dantas

Grupo Opportunity tenta na Justiça liberar jatinho avaliado em R$ 10 mi e apreendido na operação "Corcel Negro II" 
 
O banqueiro Daniel Dantas foi preso em 2008 na operação Satiagraha
Antonio Cruz - ABR
 
O grupo Opportunity, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, pediu à Justiça mineira a liberação de um avião de médio porte, avaliado em R$ 10 milhões, apreendido na operação “Corcel Negro II”, que desbaratou um esquema de sonegação fiscal e extração ilegal de carvão, conhecido como “máfia do carvão”. O Hoje em Dia teve acesso aos documentos que correm na Justiça estadual.
Na documentação apresentada à Justiça, os advogados alegam que a aeronave, modelo 750 Cessna Aircraft, prefixo PT-WUM, pertence ao grupo Opportunity. O avião, no entanto, está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), como sendo de propriedade da ADE Táxi Aéreo, empresa que segundo o Ministério Público Estadual pertence a Urbano Ferraz Gontijo, apontado como um dos chefes da máfia do carvão. A aeronave é uma das mais velozes do mundo para uso civil. Oficialmente, ela era utilizada para o serviço de taxi aéreo.
 
A ADE teve todos os bens confiscados por ordem judicial durante a “Corcel Negro II”, realizada pelo Ministério Público Estadual em conjunto com a Secretaria de Estado de Fazenda, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em julho passado. De acordo com as investigações, que já se converteram em ações judiciais na comarca de Monte Azul, no Norte de Minas, a empresa seria um dos tentáculos da família Gontijo, acusada de extração ilegal de carvão e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
 
Ao cumprir os mandados de busca e apreensão e bloqueio dos bens, os integrantes da força-tarefa que resultou na “Corcel Negro II” encontraram o avião no hangar da ADE, no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Ele está em poder da Justiça. Para surpresa do MPE, há cerca de um mês a Cooper Air Representação Ltda. pediu o desbloqueio da aeronave alegando ser a verdadeira proprietária. Esta empresa está registrada em nome da Araucária Participações e de Rodrigo Otávio de Paula.
 
A Araucária pertence à OPPI Fundo de Investimentos em Ações, popularmente conhecido como um fundo de investimentos de Dantas. Na operação “Satiagraha”, desencadeada em 2008, a Polícia Federal revelou que a Araucária tinha como endereço a sede do Opportunity, no Rio de Janeiro, e pertencia à irmã de Dantas, Verônica Dantas.
 
As autoridades envolvidas no caso da aeronave tentam desvendar o mistério que envolve o banqueiro e a máfia do carvão. Nos documentos apresentados pela Cooper, a ADE Táxi Aéreo teria realizado uma Sociedade em Conta de Participação com a empresa INC Empreendimentos e Participações S/A para a aquisição da aeronave. De acordo com o Ministério Público, a INC também pertence à máfia do carvão.
 
“Pelo contrato, datado de 6/04/2011, a INC contribuiria com R$ 10,5 milhões para aquisição de uma aeronave e de mais R$ 3 milhões para capital de giro. A INC por sua vez, teria firmado um dia antes, em 5/04/2011, um contrato de mútuo com a Alcobaça Consultoria e Participações S/A, cujo sócio majoritário é o Banco Opportunity S/A (leia-se Daniel Dantas)”, destaca trecho da descrição do Ministério Público em documento que relata a explicação dada pelas empresas ligadas a Dantas.
 
Pela justificativa apresentada, a INC teria recebido o dinheiro da Alcobaça para comprar o avião. Mais tarde, ela teria dado o jatinho executivo como pagamento da dívida. Já a Alcobaça teria cedido o bem à Cooper. No dia 16 de agosto deste ano, a Cooper e a ADE realizam o distrato, ou seja, cancelaram a operação.
 
Conforme a ação do Ministério Público, entre as justificativas apresentadas pelas empresas está a de que o cenário internacional não contribuiu para o desenvolvimento da atividade. Em outubro deste ano, a Cooper, com sede em Belo Horizonte, pediu à Axis – interventora legal da INC – que tentasse o desbloqueio judicial da aeronave. Em um dos documentos apensados ao processo, a empresa sustentou que foi feito um depósito de R$ 10,5 milhões da Alcobaça para a INC. Foi anexado um comprovante de depósito de uma conta bancária da empresa ligada a Dantas.
 
Agora, caberá à Justiça decidir se o avião ficará em poder da Justiça ou será entregue à empresa da família Dantas.


Sintonia Fina vis Amália Goulart

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