Cartas ao jornal O Globo
Por Eduardo Valente
Enviei na quarta-feira [14/12] a seguinte correspondência para O Globo:
Prezados editores de O Globo, agora estou oficialmente preocupado.
Como vocês podem ver pela carta abaixo, que enviei nos dois últimos dias, eu achava
que algum engano estava acontecendo sobre nenhuma menção ao livro A Privataria Tucana, às denúncias contidas
nele, fartamente documentadas, nem à reação ao mesmo, que ontem levou um deputado
federal a pedir abertura de CPI e outros dois a se pronunciarem no plenário. Até
mesmo o ex-governador José Serra precisou responder finalmente sobre o tema, afirmando
que se tratava de “lixo”. No entanto, continua não havendo uma linha em O Globo sobre a existência desse livro que,
há cinco dias, mobiliza a opinião pública brasileira. Digo que estou preocupado
porque, como leitor de O Globo que conhece
e partilha dos mesmos princípios editoriais que o jornal (como exposto no final
da minha carta de ontem), agora estou totalmente convencido de que neste momento
o jornal encontra-se sob censura.
E, por isso mesmo, quero me irmanar
ao jornal em sua luta para escapar das garras deste inimigo tão insidioso que, em
um passado ainda próximo, nos afetou a todos de maneira tão tacanha. A publicação,
hoje [15/12], de nada menos que 10 cartas
em sua seção de correspondência do leitor sobre uma “blindagem” que está sendo feita
ao ministro Pimentel me pareceu uma genial maneira (como as antigas receitas de
bolo) de explicitar que quem está sob blindagem e ameaças é o próprio O Globo, impossibilitado como está de dar
voz a este tema grave. Por isso, faço questão de dizer que podem contar comigo para
publicar esta minha carta, que agora entendo estar impedida de ser publicada no
jornal por forças maiores, nas redes sociais que hoje permitem a nós escaparmos
das garras deste animal tão doentio que é a censura. Estamos juntos nesta luta e
podem acreditar que não vamos arrefecer nossos ânimos até que esta cortina esteja
levantada!
PS: uma outra coisa que podia ajudar
era seguir o modelo que o Estadão tem
usado, e escrever “O Globo, há cinco dias sob censura” e depois ir atualizando a
cada dia. É muito efetivo para deixar clara nossa luta.
“O critério é ser notícia”
A carta anterior, enviada no segundo
dia, era:
“Tenho certeza que foi por algum engano
que não saiu nenhuma nota no jornal O Globo
dos últimos dois dias sobre o livro A Privataria
Tucana, que foi destaque absoluto na internet e estampa uma das principais revistas
semanais do País. Afinal, as denúncias, idôneas ou não, que costumam ocupar a capa
de uma outra revista semanal, são sempre muito bem repercutidas em O Globo logo na segunda-feira, quando são
publicadas. Uma vez que o livro já está em primeiro entre os mais vendidos do País,
segundo os mais distintos sites que acompanham o mercado editorial, é certo que
ele será logo foco de uma matéria grande neste jornal que se ocupa sempre dos principais
temas do País. Não fugirá deste, uma vez que, inclusive, um pedido de CPI já foi
feito no Congresso. Quem sabe em seguida não seja resenhado no caderno de lançamentos
literários também o livro Crimes de Imprensa,
lançado há 15 dias. Sabemos que uma imprensa livre, afinal, é uma demanda de O Globo e de seus leitores.
PS: Aproveito para relembrar isso
que vi publicado em algum lugar, e achei uma leitura precisa e importante para todos,
que me tranquilizou ao saber que partilhamos dos mesmos princípios. Dos princípios
editoriais das Organizações Globo: “(...) Não pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo
que for de interesse público, tudo aquilo que for notícia, deve ser publicado, analisado,
discutido; (...) gostar ou não de um assunto ou personagem não é critério para que
algo seja ou não publicado. O critério é ser notícia; (...) as Organizações Globo
são apartidárias (...), os jornalistas das Organizações Globo devem evitar situações
que possam provocar dúvidas sobre o seu compromisso com a isenção.”
Eduardo Valente é cineasta, Rio de
Janeiro, RJ.
Sintonia Fina via Limpinho e Cheiroso
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter"
(Cláudio Abramo)
(Cláudio Abramo)
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