O fim da confraria da Selic
Alguns
anos atrás, Pérsio Arida inventou a “teoria da jabuticaba”. Por algum
mistério insondável, sempre que a taxa de juros real (taxa Selic
descontada a inflação) ficava abaixo de 8%, havia inflação.
Em um almoço, pedi que ele me explicasse o mecanismo na cabeça do remarcador de preços.
E ele:
estamos em uma economia oligopolizada, o remarcador olha a taxa de
juros, comparava com a expectativa de inflação e, se a diferença ficasse
abaixo de 8%, remarcava preços.
Respondi-lhe
que se me apontasse um só que atuasse assim, lançaria uma campanha sua
para o Nobel de Economia. OU seja, não havia nem base teórica nem
evidência empírica para o que dizia. No entanto, entrou para o senso
comum do jornalismo financeiro.
Agora, Pérsio, Armínio Fraga e Gustavo Franco aceitam que os juros devem cair mais ainda, conforme afirmaram em reunião do PSDB.
O argumento do Pérsio é correto: com menos juros sobram mais recursos do Estado para investimentos.
Mas sua
preocupação – assim como a de Armínio e Gustavo – é o de liberar
recursos dos títulos públicos (e da renda fixa em geral) para as
aplicações em ações, área que são o atual foco da sua atuação, como
gestores de fundos.
Na mesma
reunião – do PSDB – Pérsio apresentou a proposta de acabar com o que
chama de crédito subsidiado do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico s Social). Mais uma vez, a ideia é liberar clientes para os
fundos de investimento.
Duas lições a se tirar do episódio:
- Todas as propostas desse grupo de economistas visam atender aos seus interesses empresariais específicos.
- Mas
seus interesses empresariais, agora, estão alinhados com os interesses
do país, de aumento do investimento, de liberação dos recursos da
confraria da Selic para os fundos de investimento em renda variável e
dos recursos públicos para políticas sociais e investimento.
São curiosos esses movimentos econômico-políticos no país.
A queda
da Selic, além de interessar às políticas sociais e ao investimento
público, também beneficia bancos comerciais (que passam a captar mais
barato) e fundos de investimento em renda variável (que não tem a
concorrência da renda fixa, com juros elevados e liquidez absoluta).
Mesmo
assim, a confraria da Selic conseguia se impor através do jugo do
especialista – os departamentos econômicos de bancos e as consultorias –
brandindo sofismas primários. Todo um país de joelhos ante um exército
maltrapilho em raciocínio, mas rico em alianças.
Esse
modelo começou a se enfraquecer, primeiro, graças ao trabalho de alguns
economistas de primeira linha – como Sérgio Werlang, do Itaú, depois de
Ilan Goldfajn – que passaram a apoiar as ações do Banco Central, de
redução de juros e a defender ideias mais sofisticadas do que os chavões
de Loyolla-Mailson.
Mesmo
Armínio Fraga – talvez a maior liderança hoje, no mercado de capitais –
inibiu-se ante os chavões que predominavam na aliança confraria da
Selic-mídia financeira.
Agora,
aparentemente acabou a era dos “juristas” – os defensores dos juros
altos em qualquer circunstância. Pérsio esqueceu a “inflação de
jabuticaba”, os grandes bancos enquadraram seus selicistas. E, depois da
atoarda com a primeira redução da Selic, o mercado se curvou ao comando
do Banco Central.
Espera-se agora que, com o vento a favor, o BC acelere a queda de juros.
Luis Nassif
ET:Nassif esqueceu de dizer que Pérsio Arida, sócio de Daniel Dantas, foi indiciado na Operação Satiagraha.
Sintonia Fina - Terror do Nordeste
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