Eles são
monarquistas, anticomunistas, contrários ao aborto e à homossexualidade,
defensores do porte de arma - e alunos de mesma universidade famosa
pela sua militância de esquerda. Conheça a União Conservadora Cristã
(UCC), o lado direitista da USP
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OS ANTI-MARX Saulo Mega Soares, entre dois jovens conservadores. Eles provocam um novo embate ideológico no meio universitário |
Alto, magro, de olhos
claros e cabelos cacheados, Arthur Pittarello poderia se orgulhar de
sua juventude. Mas o estudante de ciências sociais da USP parece não
ligar para a própria idade. “Aí você me pegou. Tenho 22 ou 23…”, diz.
Sua hesitação é reveladora: Pittarello é um cara tradicional.
Monarquista e religioso, é presidente da União Conservadora Cristã
(UCC). A entidade nasceu num ambiente naturalmente hostil: entre os
estudantes da USP, famosos por sua histórica militância de esquerda.
Mais curioso é que ele sobreviva sem o apadrinhamento de nenhum partido
político de centro ou de direita. Mesmo assim, cerca de 20 jovens como
Pittarello (23 anos confirmados) integram o UCC.
A
entidade surgiu há dois anos para disputar o Diretório Central dos
Estudantes da USP. Conseguiu o apoio de 217 pessoas e ficou em sexto
lugar. Sem chance de vencer, a chapa chamou a atenção. Em maio, voltou a
ser notícia ao participar da Contra-Marcha da Maconha, questionando os
argumentos pró-legalização da droga. O episódio rendeu à UCC a pecha de
extremadireita, prontamente recusada.
Por
saber que defendem ideias controvertidas no âmbito acadêmico, seus
integrantes costumam ser avessos à exposição. Relutaram em falar com a
reportagem de Época São Paulo. Alguns não quiseram fornecer seus nomes
reais e apenas um quis mostrar o rosto: o rapaz em primeiro plano na
foto à direita, Saulo Mega Soares, de 21 anos. “Eu era trotskista
quando cheguei à faculdade”, diz ele, hoje no quarto ano de Direito.
“Estudei e debati muito até perceber que a filosofia marxista é
equivocada. O século XX foi a completa negação de tudo o que Marx
previu.” Além de ser articulado e denotar erudição, Soares joga futebol e
vai à academia. “Além da leitura, gosto muito da atividade física.”
Cada
um tem suas razões para estar na entidade. Catarina (nome fictício), de
20 anos, cresceu numa família católica do interior paulista. Tímida,
retraída e claudicante nas palavras, ela diz que sempre cultivou um
sentimento anticomunista. “A busca pela verdade é o que me move”, afirma
ela, que também estuda na faculdade do Largo São Francisco. Seu colega,
Pedro Henrique Barreto, de 21 anos, entrou em depressão ao procurar
respostas sobre a questão do aborto – diz que a reflexão
político-religiosa o salvou. “Somos movidos pela castidade. Deus nos
mandou ser assim”, diz o estudante, que namora uma conservadora como
ele. Sexo, só depois do casamento. Barreto gosta de jazz, música
clássica e do filme Cidadão Kane, o clássico de Orson Welles. Catarina
prefere rock, como AC/DC e Titãs. Um de seus filmes preferidos é Tropa
de elite, o mesmo de Soares, que ouve Skank e Jota Quest.
De
gostos diferentes, se irmanam na ideologia. São todos monarquistas,
reprovam o aborto e a homossexualidade – e defendem o porte de arma.
Para o filósofo Renato Janine Ribeiro, eles preenchem uma lacuna real na
militância universitária. “Os grupos de esquerda atuais não defendem
mais objetivos ideológicos, como justiça social”, diz o professor de
ética e filosofia política da USP. Isso favoreceria a defesa de causas
opostas.
“Acho saudável que
exista alguma reação como a UCC”, diz o filósofo Olavo de Carvalho.
Espécie de guru do conservadorismo brasileiro, ele lamenta a ausência de
oposição ao que chama de “hegemonia da esquerda”. Mas acha que a
militância jovem não terá força fora das universidades. “Politicamente,
não vai dar em nada”, diz. Segundo Carvalho, figuras como o falecido
doutor Enéas Carneiro e o deputado Jair Bolsonaro são expoentes
“patológicos e excêntricos”. Para ele, não existe uma direita
intelectualmente respeitável no Brasil.
Pittarello
concorda: “A situação política de hoje não dá espaço a um conservador.
Não temos um projeto de poder”. É nesse vazio que a UCC se mobiliza para
estudar, discutir e promover eventos sobre os temas que defende, seja
na USP, seja na Unicamp, onde também conta com adeptos. “Não vamos nos
reduzir à mera divulgação política”, diz Barreto. “A gente também quer
estudar, quer saber, quer aprender.”
AS BASES DE UM CONSERVADOR
O filósofo Olavo de Carvalho elaborou a lista ao lado para ajudar a diferenciar conservadores de revolucionários
TRADIÇÃO
O
conservador preza a experiência passada como forma de pensar o
presente, em contra-ponto ao revolucionário, que entende o presente com
base num futuro hipotético
PROVIDÊNCIA
O
povo não deve sofrer os efeitos das escolhas de gerações anteriores. Os
políticos têm o direito de experimentar e aprender com a experiência,
mas não o de testar práticas arriscadas de longo prazo
REFORMA
Governos
não têm o direito de fazer algo que os seguintes não possam desfazer.
Nenhuma ordem social do passado foi tão ruim a ponto de bloquear a mera
possibilidade de uma nova ordem
DEMOCRACIA
A
revogabilidade das medidas de governo é um princípio democrático
essencial, mas propostas revolucionárias tendem a concentrar o poder e a
excluir para sempre as propostas alternativas
EQUILÍBRIO
A
mentalidade revolucionária não é um traço permanente da natureza humana
e deve ser erradicada como condição essencial para a sobrevivência da
liberdade no mundo
Sintonia Fina - Igor Ribeiro
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