22 de nov. de 2011

O dedo nervoso no Facebook, a Usina e o vídeo da Globo

Marcello Napolitano, dica de Patricia Tavares

As redes sociais podem nos ajudar a superar a pífia atuação de mídia investigativa que existe no país. O problema, como tão bem comentou Maíra Meyer, é que as pessoas deveriam estar dispostas a ler mais, se informar mais, antes de partir para condenação ou linchamento público. Daí sim, teremos as redes sociais ajudando a sociedade civil a promover mudanças significativas. Mas sem conteúdo, não há progresso – apenas manipulação.

O conhecimento é libertador
 
Há alguns dias, venho acompanhando diversos amigos do Facebook compartilhando um link “A Gota D’água +10”. Eu não assistia, pois todos takes que apareciam na tela eram de pessoas que não têm a mínima credibilidade comigo.

No entanto, eu prezo muito pelo protesto. Acredito que todos (sem exceção), sejam artistas da Globo ou estudantes da USP, têm o direito de protestar contra ou a favor do que quiserem. Estejam certos ou errados, a democracia brasileira – graças aos estudantes da década de 1960, que protestaram, apanharam e morreram por isso – nos permite protestar. Esses protestos geram comentários e opiniões contra e a favor. E isso também é legítimo e saudável. O grande problema é quando os comentários são sem embasamento algum. Ou seja, apenas dedos nervosos no botão compartilhar do Facebook, gritando bravatas contra quem quer que seja. Apenas uma ressalva: os dedos nervosos com bravatas do FB também são legítimos, mas dá uma vergonha alheia (lembremos o caso do Lula no SUS).

Portanto, julgamentos à parte, hoje [17/11], eu acordei e resolvi assistir ao vídeo. Vi muitos artistas revoltados, entoando palavras de ordem contra a construção da usina. Por um lado eu achei muito legal o protesto, pois notei que há vida cerebral em alguns deles. Por outro lado, achei essa vida cerebral um pouco vazia. Vazia, por que os argumentos são sempre os mesmos: impostos, vai sair de nosso bolso, nos livros de história vai estar escrito etc.

Essa cultura que está se formando é engraçada: “Sou um mártir, pois eu ‘tô’ pagando meus impostos.” Pagar os impostos em dia não é orgulho para ninguém. É apenas uma obrigação de todo cidadão.

Outra curiosidade são os artistas da Rede Globo falarem em a presidente escrever a história do Brasil. Está na história o apoio da emissora à ditadura militar, que puxou o Brasil para trás e matou milhares de jovens durante 21 anos. Também está escrito na história a maneira com que essa mesma emissora editou seu principal telejornal e ajudou a eleger um dos maiores corruptos do Brasil. Todos os bons profissionais escolhem onde querem trabalhar. Eu, por exemplo, sempre fiz isso. Por que eles não fazem?

Depois de assistir, fiquei com vontade de compartilhar, pois os argumentos são fortes e a maneira com que são entoados – são artistas bem treinados – faz nossa cabeça. Porém, o apelo fervoroso pela assinatura, assim como a construção tão profissional do vídeo e a maneira como eles falavam, tão bem decorado, me incomodaram bastante.

Então, como estou curtindo minhas férias, resolvi pesquisar os fatos e escrever sobre isso.

Estudando bem pouco, ou seja, indo até o google, digitando “usina de belo monte”, qualquer pessoa se depara com as primeiras informações incorretas do vídeo.

– O custo da Usina não é de R$30 bilhões, mas R$19 bilhões.

– Tenho duas fontes sobre a área alagada: 400km2 e 516km2. Nenhuma fonte aponta os 640 do vídeo.

– O site da usina esclarece que a usina não afeta o Parque Nacional do Xingu e que a qualidade de vida da população que será removida e indenizada irá melhorar, pois hoje, em época de cheias, eles vivem em casas alagadas e em época de secas, vivem em casas cheias de lama.

– O mito da energia eólica substituindo completamente as novas usinas hidrelétricas não mostra as limitações de custo, de instalação, os problemas ambientais embutidos nelas. Não se analisa a matriz energética, para avaliar a viabilidade ou não de se abrir mão das usinas amazônicas. (Luiz Nassif)

– A menor eficiência da usina dá-se pela utilização de um modelo que afeta menos o ambiente, aquele que gera energia em cima da correnteza do rio. Para ter maior eficiência, seria necessário um grande lago, que inundaria áreas enormes.

O vídeo de nossos queridos artistas, ídolos de alguns, portanto, contém diversas inconsistências. Minha dúvida é a quem esse protesto interessa? Quem está patrocinando esses artistas?

Não vou compartilhar e convido a vocês a se informarem antes de compartilhar.

Uma informação: a usina não é um projeto do PT nem do PSDB. Ele se iniciou na década de 1970, foi amplamente apoiado nos oito anos do governo FHC, que em 2002 criticou os ambientalistas e disse que a oposição à construção de usinas hidrelétricas atrapalhava o desenvolvimento do País. A decisão foi deixada para os governos Lula, quando foi feita uma revisão do projeto, o que não significa que melhorou ou tornou menos nocivo ao ambiente. Tomem cuidado com as bravatas.


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