Por Altamiro Borges
Já virou rotina no longo reinado tucano em São Paulo. Nenhuma denúncia
de falcatrua é apurada, os desvios de recursos públicos se acumulam e a
mídia ainda tenta blindar os corruptos e corruptores. No caso do recente
escândalo destampado pelo deputado Roque Barbieri (PTB), da base de
apoio do governador Geraldo Alckmin, a triste história pode se repetir.
Roquinho, como é conhecido, garantiu em entrevista a um jornal do
interior paulista, registrada em vídeo, que “de 25% a 30%” dos deputados
da Assembléia Legislativa de São Paulo estão metidos em maracutaias
para a aprovação de emendas. A denúncia caiu como bomba. O governo negou
as acusações e, na sequência, prometeu maior transparência no trato do
dinheiro público.
Operação-abafa e jogo pesado
Era puro jogo de cena. A operação-abafa foi imediatamente acionada. O
deputado sofreu violenta pressão, sendo ridicularizado pelos próprios
integrantes da base governista – tratado como louco, aventureiro e
outros adjetivos. Houve também um boato da tentativa de cooptação para
calar sua boca, com a indicação para uma secretaria do governo. A coisa
não andou e Roquinho voltou a atacar.
Nesta semana, ele ligou o ventilador no esgoto, generalizando as
críticas. Disse que a Assembléia Legislativa é um “camelódromo” e que
todos os deputados “têm um preço”. Diante da gravidade da acusação,
nesta quarta-feira (5) vários deputados exigiram a imediata instalação
de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar suas
denúncias. A coisa está feia para todos!
Governistas têm medo da apuração
Mas os deputados do PSDB, DEM e PTB têm mais medo de uma CPI do que da
língua solta de Roquinho. O pedido para sua criação foi assinado por 28
parlamentares do PT, PCdoB, PDT e PSOL, mas precisa da adesão de 32 para
vingar. Na reunião do Colégio de Líderes, o petista Ênio Tatto citou o
“camelódromo” para sensibilizar os governistas, mas ninguém topou
assinar o pedido de CPI.
O presidente da Assembléia Legislativa, Barros Munhoz, também rejeitou a
idéia da CPI e defendeu que a apuração seja feita pelo Conselho de
Ética, no qual os governistas são maioria e o sigilo é garantido. Ele
também atacou Roquinho, do seu partido. “Foi, no mínimo, profundamente
infeliz e, mais do que isso, profundamente injusta (sua declaração).
Logicamente, ela terá de ser reparada. Foi uma fala extremamente
injuriosa e caluniosa. Ou ele se explica, ou fica passível de punição”.
Cadê a “marcha contra a corrupção”?
Pelo andar da carruagem, tudo indica que o novo pedido de criação de CPI
na Assembléia Legislativa vai dar em pizza. Desde que o tucano Mário
Covas assumiu o governo estadual, em 1995, já foram engavetados 91
pedidos de CPI para apurar irregularidades em São Paulo. A direita adora
gritar pela criação de comissões de inquérito, mas nunca na sua casa.
Será que a mídia demotucana, tão empolgada com as tais marchas contra a
corrupção, vai agitar algum protesto na Avenida Paulista? E a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), de São Paulo, presidida por um notório
direitista, topa chamar uma “marchinha”?
Sintonia Fina - Blog do Miro
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