FHC e a “centro-direita”: a alma da UDN
Saiu no Tijolaço:
A entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje, no Estadão,
deve ser lida abaixo da linha das palavras, na linha de visão de mundo
neoliberal que domina a mente vaidosa do “príncipe” destronado.
A certa altura, ele se expõe:
Não se deve, então, falar em esquerda e direita ?
Há uma insistência nessa
dicotomia. Isso se deve à falta de analisar os processos reais, o mundo
concreto. Não é que inexista uma esquerda, mas… o que significa a
esquerda hoje? Ninguém mais pensa, como no passado, coisas como
coletivização dos bens privados, feita por um partido que dominasse o
Estado em nome de uma classe. Isso não ocorre mais.
Fernando Henrique, a quem não
falta conhecimento teórico para saber disso, tem perfeita compreensão
que, há mais de 50 anos, não se pode definir assim o pensamento de
esquerda. Ele próprio, quando ainda não havia transitado de lado, era um
intelectual de esquerda sem jamais ter defendido a coletivização dos
bens privados ou o domínio do Estado por um partido em nome do Estado.
Ser de esquerda – sobretudo
aqui e progressivamente, desde os anos Vargas – foi sinônimo de defender
um nacionalismo inclusivo que, de um lado, protegesse o país do saque
colonial – de riquezas naturais e, mais tarde, financeiro – e, de outro,
promovesse o resgate, longe de ser concluído, de imensos contingentes
da população de uma condição de miséria.
Seu governo fez exatamente o
contrário. Sobre a entrega e abertura das entranhas do país, nem é
preciso falar, todos sabem. Sobre a exclusão, alguém duvida do quanto se
alargou o fosso entre elite e povão, nesse período. Não, claro, não foi
ele quem a inventou. Mas tomou gosto nela, pela sua própria alma
deslumbrada e a palavra “moderno” passou a ocupar na sua mente um lugar
que eclipsava totalmente a palavra “justo”.
“Quem defende a direita no
Brasil? Ninguém. Mas na prática ela existe – mas a nossa direita é muito
mais o atraso, o clientelismo, fisiologismo, esse tipo de questão, do
que a defesa dos valores intrínsecos da propriedade, da hierarquia”.
Perfeito. Reduzimos, então, a
direita no Brasil a alguns políticos sem-vergonhas, nepotistas ou a
figuras tristemente folclóricas.
A propriedade e a hierarquia
que fazem deste país um dreno de riquezas e de trabalho, em proveito de
uma ínfima elite e de uma ordem econômica mundial decrépita são
defendidos por quem?
Ah, sim, pelos “modernos”.
“(…) Temos (o PSDB) uma
tradição republicana, nos diferenciamos bastante nisso. A coisa pública
tem que ser respeitada como tal e não ser objeto nem de apropriação
privada nem político-partidária. Isso é uma linha. Não é esquerda nem
direita, é republicana”.
Mais uns anos de tal tradição republicana, não sobraria República.
Sintonia Fina
Nenhum comentário:
Postar um comentário