Gilberto Maringoni fez um trabalho didático na “Carta Maior”: expôs as principais capas de “Veja”, de 1993 a 2010. O período cobre exatamente os dois mandatos de FHC e os dois mandatos de Lula.
A
comparação visual é impressionante. Ao lado das capas, Maringoni faz
uma pequena análise do conteúdo. Nem precisava. As imagens quase falam
por si. Lula é tratado com desrespeito: pé no traseiro, barriga de fora,
a faixa de presidente enrolada feito venda nos olhos do presidente. FHC
aparece austero, professoral, um estadista.
Mais
que isso. Os escândalos na era FHC levam para a capa os pivôs dos
escândalos: Ricardo Sérgio, Mendonção, Sérgio Motta… Uma exceção:
Eduardo Jorge, secretário particular aparece ao fundo da imagem
resignada de FHC, sob a chamada de capa quase amiga: “as ligações e os
negócios do ex-assessor que estão fazendo um estrago na imagem do
presidente”. Ou seja, FHC não tem nada com isso, mas a revista alerta
que o ex-assesor está atrapalhando a boa imagem do estadista. Assim, de
amigo para amigo.
Os escândalos da era Lula são escândalos de Lula.
Sempre. Lula carrega Zé Dirceu feito um peso já em 2004 (FHC jamais
carregou Ricardo Sérgio nas capas de “Veja”; mas o livro de Amaury vem
aí pra contar bem essa história); a imagem de Lula se desfaz na capa da
revista, em 2005; depois, as manchetes do “Mensalão” (“Ele sabia?” ,
“Quando e como Lula foi alertado”), sempre com a figura de Lula na capa.
Com FHC e a compra de votos para a reeleição, nada parecido. Ninguém
perguntou se FHC “sabia”?
E a
tentativa (obsessiva?) de arrasar a imagem do PT e dos movimentos
sociais: a estrela petista na capa uma, duas, três vezes. Sempre a se
desmilinguir. O MST como grande inimigo. E o “polvo” (PT? povão?) a
ameaçar a República (ou a ameaçar aqueles amigos de “Veja” que não
conseguem voltar ao Palácio?).
As
imagens coletadas por Maringoni são também, e isso me ocorre agora, as
imagens de uma derrota clamorosa. Nunca um órgão de imprensa apostou
tantas fichas em derrotar um presidente e um partido. Nem Carlos Lacerda
foi tão longe contra Vargas, porque não tinha os recursos visuais das
capas de “Veja”.
A turma do
esgoto, instalada na Marginal Pinheiros, usou e abusou dos recursos
visuais. E das mentiras (dólares de Cuba, contas de Lula no exterior…). E
perdeu. Duas vezes. Ou três vezes, se contarmos 2002, 2006 e 2010.
A
história das capas de “Veja” é a história do preconceito (quem não se
lembra da “mulher, nordestina” – cruz, credo – que pode decidir a
eleição em 2006?). Preconceito derrotado. É a história de um discurso de
ódio. Derrotado. “Veja” e sua máquina de manipulações foram derrotadas
de forma espetacular. Isso é o mais impressionante na coletânea feita
pelo Maringoni.
Isso tudo não
absolve o PT e Lula de seus erros. Maringoni, aliás, nem é do PT. Faz
opopsição pela esquerda, no PSOL. Mas é daqueles que não perderam o
juízo e sabem que o inimigo principal não está no lulopetismo. Basta
olhar para as capas de “Veja” para saber que ali está não apenas um
inimigo feroz da esquerda e dos movimentos sociais. A “Veja” é inimiga
do Brasil. Ela e suas capas odiosas e odientas. Derrotadas.
Tão
derrotadas como Ali Kamel da Globo – com o delegado Bruno em 2006 e a
bolinha de papel em 2010. Mas a “Veja”, é preciso reconhecer, foi muito
mais longe que Kamel. Ele é mais sutil, mais inteligente. A “Veja”, não.
É boçal. Bom saber e ver que a boçalidade odiosa de “Veja” foi
derrotada.
O mais incrível é que
“Veja” segue a alimentar o discurso de que o PT e o lulismo querem calar
a imprensa. Hehe. Se houvesse “projeto autoritário”, a “Veja” não
estaria aí até hoje. Lula e o PT ganharam da “Veja”, na bola. Sem
tapetão.
O que choca é outra coisa: o lulismo e o PT seguem a alimentar o monstro. É o que diz Maringoni:
“A visão de Veja é a visão da extrema direita brasileira. Tem uma tiragem de um milhão de exemplares e é lida por muita gente. Entre seus apreciadores está, surpreendentemente, o governo brasileiro. Este não se cansa de pagar caríssimas páginas de publicidade para uma publicação que o achincalha com um preconceito de classe raras vezes visto na imprensa. Freud deve explicar.”
Sintonia Fina - No Escrevinhador
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