Saiu na Folha (*), pág B5, entrevista com Claudio Hadadd, respeitado economista, ainda que neoliberal até a medula.
Haddad faz uma severa critica ao BNDES do Coutinho: distribuir subsídios (dinheiro do povo brasileiro – o Haddad jamais usaria essa expressão “populista”) a acionistas de empresas grandes, que, muito bem, poderiam ir buscar esse dinheiro nos IPOs da Bolsa.
Ao Bolsa Família do Coutinho, o Pai da Burguesia Nacional:
Contabilmente o BNDES usava a justificativa de que, com a utilização de recursos do FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador], remunerados a 6% ao ano, não haveria subsídio se o BNDES emprestasse acima dessa taxa. É uma falácia, porque o custo relevante é aquele pelo qual o Tesouro capta.
Hoje, depois das capitalizações, os subsídios estão mais patentes. O governo capitalizou o BNDES com recursos captados a mais de 12% ao ano, e o banco empresta cobrando a TJLP [taxa de juros de longo prazo], que é de 6% ao ano “”a diferença, de mais de 6%, é o subsídio.
Qual o custo desse subsídio?
Cerca de R$ 18 bilhões por ano. Num cálculo rápido, são os 6% da diferença aplicados sobre o valor das captações, de quase R$ 300 bilhões. O governo está dando muito mais do que um Bolsa Família por ano a quem pega dinheiro no BNDES [o orçamento do programa para este ano é de R$ 13,4 bilhões]. E quem se beneficia são os acionistas das empresas.
E o papel de financiador de longo prazo?
É importante, mas o BNDES poderia emprestar a longo prazo com taxas reajustáveis, sem subsídios. Havendo dinheiro subsidiado, é evidente que as empresas vão preferir usá-lo. Mas não se trata de demanda nova por crédito, e sim de uma substituição do que seria tomado na rede bancária. Tanto que, depois das capitalizações dos últimos anos, o crédito do setor privado às empresas deu uma travada. Na estrutura de empréstimos bancários, o BNDES tem uma fatia de mais de 15%, o que é significativo. Também é preciso considerar que o mercado de capitais, com os IPOs [sigla em inglês para lançamento inicial de ações], se transformou numa fonte importante.
Como avalia a orientação de favorecer a formação de conglomerados com alcance global, os “campeões nacionais”?
O país precisa ter grandes empresas, sem dúvida, mas sou muito cético em relação a essa ideia. Dar dinheiro sem exigir metas de desempenho, sem um objetivo claro e sem políticas paralelas, como um esforço educacional, em geral leva ao fracasso. Se uma empresa quiser virar campeã nacional, que faça isso por conta própria, que seja uma campeã natural, e não artificial.
Não há contradição entre a ação do BNDES, que favorece a formação de conglomerados, e a do Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica], que tenta proteger a concorrência?
Sim. A política de formação de campeões, além de ser pouco eficiente, promove concentração de poder econômico.
Em tempo: o Globo, na capa da seção de Economia, faz um levantamento minucioso dos beneficiários do BNDES do Coutinho. E contém uma reveladora omissão: não trata da BrOi, a P-36 do Governo Lula, que resultou num cala-a-boca de US$ 2 bilhões ao passador de bola apanhado no ato de passar bola – clique aqui para ver o que Gilmar não viu: o ato de passar bola no jn da Globo.
O Globo omite que os empresários (?) Carlos Jereissati e Sergio Andrade, sem botar um tusta, receberam do BNDES 70% da telefonia fixa do Brasil. Isso é que Bolsa Família !
Clique aqui para ler “Gilmar defende Pagot. Até tu, Brutus ?”.
Clique aqui para ler sobre o que disse o “Professor Lessa, ou o BNDES de que eu gosto”.
Sintonia Fina - Conversa Afiada
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