11 de jun. de 2013

Apertem os cintos, a piloto sumiu...


Por Eduardo Guimarães
Imagine que você está em férias com a família desfrutando de um cruzeiro marítimo. Durante a travessia, porém, uma tempestade se abate sobre o navio, que se converte em uma gigantesca batedeira de bolos, com tudo caindo de cima das mesas e os passageiros cambaleando pela embarcação como se estivessem bêbados


Os vagalhões arrebentam no convés, os trovões ensurdecem os passageiros, mas, até então, você acredita que está em uma embarcação segura, que ganhou fama por resistir a tais fenômenos.
Eis que alguém, em alguma parte da nave, grita que irá afundar. O boato se espalha e logo aparecem “especialistas” tecendo teorias sobre como e por que ela não resistirá. Um notou um parafuso solto na popa, outro viu uma parte da pintura descascando na proa.
O comandante? Ora, ouviram dizer que não escuta ninguém, que só tem um “neurônio solitário”, que afundou com um barco a remo, que tem “dificuldade de concatenar ideias”
Passageiros sensatos apelam a que as pessoas não deem importância a boatos, lembram de quantas viagens o navio já fez sem que nada ocorresse, ponderam que o capitão só está em um posto de tal importância devido ao seu currículo.
Todavia, a tempestade continua fustigando passageiros assustados ao verem e ouvirem o mundo acabando lá fora e, assim, cria-se o estado de espírito propício ao pânico.
Como se resolve uma situação assim?
Mesmo que o risco naquele mar bravio seja considerável, o pânico contribui para superar a situação ou dificulta? Mesmo que o capitão não seja o melhor da Terra, é melhor confiar nele – que, por alguma razão, chegou ao posto – ou nos que já falam em motim?
Uma crise em que cada segundo conta não é hora de provocar um motim – a menos que você queira ver o barco afundar, até por ter algum meio de escape do naufrágio, de forma que o que vier a acontecer ali não lhe faça diferença.
O problema é que alguns passageiros parecem querer ver o circo pegar fogo. Do nada, dizem que não haverá coletes salva-vidas para todos, pois esse barco – ou esse avião ou mesmo um Estado nacional – deixaria de garantir o mínimo aos passageiros da segunda classe.
Para controlar o pânico e ao menos ganhar tempo para se concentrar em manobras, quem comanda o navio não pode se manter alheio ao ânimo dos que dependem de suas decisões. Não se os passageiros passam a ignorar as recomendações da tripulação e já começam a querer impor medidas e manobras mesmo sem ter conhecimento da real situação da nave.
Nesse momento, impõe-se ao capitão do navio, ao piloto do avião, ao motorista do coletivo ou a qualquer outro que conduza a muitos que se pronuncie e dê a posição oficial de quem está tomando decisões que afetarão a todos.
O comandante deve dizer que não está lá por acaso e que se está na posição em que está é porque preencheu requisitos, e que, até prova em contrário, quem confiou sua vida a ele não pode retirar sua confiança se a travessia, até aquele ponto, foi conduzida sem sobressaltos.
Em quem você confiaria se o que dizem contra o líder daquela coletividade carece de comprovação e se, até então, você jamais tiver tido qualquer razão para acreditar que uma nave que já resistiu a tantas outras tempestades iguais, de repente não resistirá?
No mínimo, o bom senso manda que ao menos se dê um voto de confiança ao comandante.
A viagem, até agora, não fez vítimas. Sim, há uma tempestade assustadora lá fora, mas, além de alguns balanços na mobília, até aqui ninguém se feriu e todos desfrutam de conforto que poucas vezes tiveram na vida.
Contudo, o que poderia convulsionar uma situação análoga nas mais diversas formas seria os alarmistas continuarem falando sozinhos e o capitão do navio, o comandante do avião, enfim, o líder oficial de todos ficar mudo, não falar sobre a crise, não der garantias de segurança a passageiros que já vão se deixando apavorar.

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