O
Sintonia Fina reproduz texto do blog do
Nassif:
Mercado especula sobre o futuro da Abril
Movimentações recentes no comando da
Editora Abril, como a contratação do banqueiro Fabio Barbosa para a
presidência do grupo, e a compra, pela família Civita, do complexo de
cursos e publicações Anglo Latino, têm estimulado suspeitas de que o
grupo estaria se preparando para desidratar o setor de revistas.
Consolidada a aquisição do Anglo,
por R$ 600 milhões, acertada em meados de 2010, o negócio ainda causa
curiosidade entre especialistas, como deixou escapar na terça-feira
(13/9) um experiente professor da Fundação Getulio Vargas.
Afinal, para que a Editora Abril
iria querer um sistema educacional que é na verdade uma franquia que
oferece cursos e vende apostilas?
Em primeiro lugar, não se trata de
um negócio da Abril, mas da família Civita. Perspectivas pouco
animadoras quanto aos sucessores de Roberto Civita teriam convencido o
controlador do grupo editorial a investir em educação, um negócio muito
mais promissor do que o de revistas.
Segundo mostrou o recente encontro
da associação do setor, a ANER (Associação Nacional de Editores de
Revistas), o cenário vai levar a mudanças radicais na organização das
editoras, com uma provável fragmentação dos grupos de interesse, o
chamado público das revistas.
A pulverização dos títulos,
induzida pela necessidade de buscar recursos em nichos cada vez mais
específicos, tem aumentado perigosamente a complexidade da gestão do
grupo Abril.
Os esforços para a qualificação de
editores em técnicas de administração não têm dado resultados,
simplesmente porque jornalistas, em geral, não são preparados para outra
coisa que não jornalismo.
Jornalistas que atuaram em outros
setores da economia, em cargos de diretoria, sabem o abismo que separa
seus colegas editores dos executivos oriundos das áreas financeira,
industrial ou de serviços.
Sem um herdeiro que possa ser
qualificado como gênio, e sem ter tido a sorte de ser, ele mesmo, um
clone do pai, o patriarca Victor, Roberto Civita tem poucas garantias de
ver prosperar ou mesmo permanecer sua complicada rede de publicações.
Mas as revistas estão acabando?
Não exatamente. Mas as mudanças que
estão ocorrendo no setor vão se acelerar de uma forma jamais vista
antes no mercado. Títulos tradicionais vão desaparecer subitamente, e
certos temas serão quase exclusivamente lidos em plataformas digitais.
Na rota do Titanic
Volta, então, a pergunta que foi feita aqui na última terça-feira: o que o banqueiro Fábio Barbosa foi fazer na Editora Abril?
Ele já declarou aos editores que
nada sabe do negócio de revistas. Mas Barbosa e Civita sabem que isso
não tem a menor importância, porque ele não está na Abril para salvar as
publicações – ele virou presidente do grupo para salvar o capital da
família Civita.
No encontro em que foi apresentado
aos editores do grupo Abril, Barbosa disse que, como não conhece o
setor, talvez seja capaz de fazer perguntas que os jornalistas já
esqueceram.
Bobagem: para fazer seu serviço,
ele não precisa saber o que é uma boa pauta. Ele vai fazer o que é sua
especialidade: obter o máximo de resultado financeiro no que resta de
vida a alguns produtos, preparar a abertura de capital do outro negócio –
o de educação – e observar a lona do circo de revistas murchar.
Roberto Civita já colecionou
grandes feitos em sua carreira de executivo-empresário: perdeu a TVA,
vendida para a Telefonica, viu o Brasil Online ser absorvido pelo UOL e
estimulou a transformação da revista Veja, que já foi um dos principais
patrimônios da imprensa brasileira, em um título Murdoch.
A Abril vive de um punhado de
revistas sem qualquer relevância, a maioria voltada para assuntos de
menor importância para as necessidades estratégicas de uma empresa do
seu porte. As revistas de negócios, que já tiveram grande influência,
foram transformadas em manuais de auto-ajuda para gerentes e são
consideradas um dos elos mais frágeis do sistema de publicações de papel
– porque os jovens executivos preferem se informar em seus aparelhos
digitais e têm acesso a dezenas de alternativas setoriais no formato
tradicional, como as revistas customizadas e as publicações de nicho.
Do conjunto de bravos e esforçados
editores não saem ideias inovadoras capazes de criar novos títulos,
simplesmente porque a empresa matou, ao longo dos últimos anos, a
cultura de inovação.
A homogeneidade das redações
desestimula a competição criativa, acomoda os profissionais, gera vícios
na produção dos textos e no desenho das páginas, como pode observar
qualquer leitor atento de revistas.
Não há gênio humano capaz de conduzir a bom porto um transatlântico como o grupo Abril.
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