Veja aqui o que o Partido da Imprensa Golpista (PIG) não mostra!
O carimbo de Dilma Rousseff nas negociações políticas
Há uma aposta clara em que, ao escolher
seus próprios interlocutores na base aliada, a presidenta conterá os
movimentos de chantagem que têm sucedido de forma permanente a troca dos
ministros vitimados por denúncias. E que existe espaço na agenda para
correr esse risco.
Maria Inês Nassif
Não parece aleatória a estratégia
política assumida pela presidenta Dilma Rousseff (PT), desde que iniciou
uma reforma ministerial em capítulos. A leitura que deve ser feita da
ação de Dilma junto à base aliada (aí incluídas as escolhas ministeriais
e de lideranças no Congresso politicamente mais afinadas com o perfil
que quer dar às relações entre Executivo e Legislativo) é a de que ela
bancou o risco de desarranjar uma coalizão montada pelo governo
anterior, que também deu sustentação à sua candidatura, para fugir ao
permanente impasse de demitir auxiliares indicados pelos partidos a cada
denúncia de corrupção, e em seguida ser obrigada a se submeter à
chantagem dos mesmos partidos para manter as pastas nas mãos dos grupos
hegemônicos nas legendas.
E, se correu o risco, é porque o governo
avaliou que há espaço para tentar arranjos na base partidária, já que
não existem questões urgentes a serem decididas pelo Congresso – a
única, o Código Florestal, prescinde de uma enorme base de apoio, já que
as posições individuais dos parlamentares estão muito consolidadas e a
bancada ruralista é muito forte.
Mantendo ou não os instrumentos
tradicionais de negociação com a base aliada, o Executivo não teria
nenhuma garantia de lealdade nessa questão.
Daqui para o final do ano, a gestão
do Orçamento, com toda a flexibilidade que a lei dá ao governo, e as
medidas para neutralizar os efeitos da crise financeira internacional
sobre a economia têm mais relevância do que as matérias que tramitam no
Congresso.
O que é importante de fato esbarra em questões que
transcendem acordos partidários – caso não apenas do Código Florestal,
mas também da Reforma Política, onde uma decisão partidária não consegue
se sobrepor aos interesses individuais dos parlamentares. Apenas o PT
consegue fechar questão sobre o assunto.
Foram 11 os ministros substituídos
até agora, mais dois líderes do governo – parte deles por baixa
produtividade, outra parte vitimada por denúncias. Nesse último caso, a
presidenta está tentando inverter a mão.
Como a hegemonia dos grupos
internos, nos partidos tradicionais, é definida pelo poder de troca
desses grupos com o governo federal, está apostando que, ao subtrair
influência desses líderes sobre a máquina administrativa e transferi-los
a outros que estão hoje à margem das decisões partidárias,
desequilibrará o poder interno a favor de pessoas mais comprometidas com
o seu governo.
Ao substituir o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) por Eduardo Braga (PMDB-AM) na liderança do governo no
Senado, ela não preteriu o maior partido da base de sustentação do
governo, mas grupos internos que detinham há nove anos o monopólio das
relações com o governo, especialmente os ligados a José Sarney (AP) e
Renan Calheiros (AL).
É uma aposta de que, se a interlocução com o
Executivo define a hegemonia interna do PMDB, a presidenta pode ter o
poder de renovar internamente o partido, ao optar por outros
interlocutores.
O mesmo comportamento teve antes,
em relação aos ministros escolhidos. Dilma tem alterado a lógica
tradicional de que é preciso simplesmente se submeter às indicações dos
aliados, mesmo que elas custem alimentar, ao longo de toda a gestão do
indicado, a cota de poder de quem indicou – e, em consequência, os
instrumentos de pressão sobre o próprio governo.
Até agora, Dilma tem
nomeado alguém do partido do ministro demitido, mas com compromissos de
lealdade com o governo, não com os grupos dominantes de sua agremiação.
Esta foi a origem da revolta do PR, que anunciou a saída do governo: o
ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, que é do PR, porém não
faz parte do grupo dominante do partido, não é aceito pelos líderes da
legenda como cota partidária, e sim como cota pessoal de Dilma.
No PDT, o movimento é semelhante.
Após a demissão de Carlos Lupi (RJ) do Ministério do Trabalho, o
político retomou o lugar de presidente da legenda, acirrando uma divisão
interna que se prolonga quase desde a morte do fundador do partido,
Leonel Brizola. O deputado Brizola Neto (RJ) está na contramão do grupo
de Lupi: tem formação política que permite uma aderência mais orgânica
ao governo, isto é, suas posições são muito mais próximas de um governo
de esquerda do que as de Lupi.
O ex-ministro manteve o PDT nos moldes
deixados por Brizola avô (poder concentrado na Presidência e pouca
seletividade na escolha de quadros) sem ter o carisma do velho caudilho.
O poder de Lupi no PDT também depende do seu poder de interlocução com o
governo.
A escolha de Brizola Neto para o Trabalho, se for confirmada,
dará mais consistência ideológica a uma pasta que, num governo petista,
com tradicionais ligações com o sindicalismo, tem que servir como
contraponto a outros ministérios destinados à direita governista. A
lealdade do deputado, sem que se exija dele abrir mão de suas convicções
políticas, será naturalmente maior a Dilma do que ao PDT representado
por Lupi.
A reação dos partidos aliados ao
ajuste pretendido por Dilma na representação dessas legendas em seu
governo já seria grande, pois esses movimentos ameaçam o status quo das
lideranças que detém o comando dos partidos de formação tradicional.
Torna-se maior no período pré-eleitoral porque aí entram novos elementos
de possível barganha.
O pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo,
Fernando Haddad, está pagando a fatura pelo jogo duro de Dilma. Como a
vitória na capital paulista é fundamental na definição do jogo político
depois das eleições, os partidos aliados ao governo nacionalmente
passaram a usar a eleição local para reverter o quadro.
Com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda afastado das lides
eleitorais, a aposta dos aliados do governo federal é a de que o poder
de barganha eleitoral reate as relações de poder dos grupos alijados da
convivência com Dilma, por conta das mudanças na correlação de forças no
Congresso.
É uma aposta que não pode ser
traduzida por falta de orientação política do atual governo, mas por uma
estratégia política diferente da gestão anterior. Se a área gerencial
da atual administração já trouxe do governo Lula o perfil de Dilma, que
foi sua principal colaboradora, no campo político o novo governo ainda
não tinha uma cara própria.
A presidenta, mesmo obrigada a apelar para a
intermediacão do ex-presidente Lula de vez em quando, assumiu correr um
risco. Mas ela não tinha alternativa a não ser a de imprimir o seu
próprio estilo também nas relações políticas mantidas com o Congresso.
Sem traquejo de negociação, conhecimento dos atores envolvidos na
permanente barganha do poder e carisma de Lula, obrigatoriamente teria
que impor padrões de relacionamento com seus alidos, sob pena de ficar
refém da política tradicional.
Sintonia Fina
- Conversa Afiada
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