28 de nov. de 2011

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul: os colonizados daqui não gostaram

Brics bloqueiam os EUA no Oriente Médio 

 

 



MK Bhadrakumar, Indian Punchline
 
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2011/11/25/brics-blocks-the-us-on-middle-east/
 
A reunião dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países Brics em Moscou, no dia 25, sobre a situação no Oriente Médio e Norte da África é evento de grande importância, como se vê pelo comunicado conjunto. Os principais elementos do comunicado são:
 
a) Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) assumiram posição comum sobre o que hoje se conhece como “Primavera Árabe”. Identificaram-se os princípios básicos dessa posição: o foco deve ser diálogo nacional pacífico; nada justifica qualquer tipo de intervenção estrangeira; o papel central nas decisões compete ao Conselho de Segurança da ONU;

b) Os Brics adotaram posição comum sobre a Síria. A frase chave do comunicado: “Fica excluída qualquer tipo de interferência externa nos assuntos da Síria, que não esteja conforme o que determina a Carta das Nações Unidas;
 
c) Os Brics exigiram “revisão completa” para avaliar a adequação [orig. appropriateness] da intervenção da Otan na Líbia; e sugeriram que se crie missão especial da ONU em Trípoli para conduzir o processo de transição em curso; dessa comissão deve participar, especificadamente, a União Africana;
 
d) Os Brics rejeitaram a ameaça de força contra o Irã e exigiram negociações e diálogo continuados. Muito importante, os Brics criticaram as ações de EUA e União Européia de impor novas sanções ao Irã, chamando-as de medidas “contraproducentes” que só “exacerbarão” a situação;
 
e) Os Brics saudaram a iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo, que encontrou saída negociada para o Iêmen, como exemplo a ser seguido.
É momento sumamente importante para os Brics – e também para a diplomacia russa. Cresceu consideravelmente a credibilidade dos Brics como voz influente no sistema internacional. Espera-se que, a partir da posição comum agora construída sobre as questões do Oriente Médio e do Norte da África, os Brics passem a construir posições comuns também em outras questões regionais e internacionais.

Parece evidente que a Rússia tomou a iniciativa para o encontro de quinta-feira e o comunicado conjunto mais ou menos adota a posição que os russos já declararam sobre a Primavera Árabe. É a vitória da diplomacia Russa por ter obtido o endosso dos países Brics também no que diz respeito às graves preocupações quanto à situação síria, ante ao risco, cada dia maior, de o Irã sofrer ataque de intervenção ocidental semelhante ao que ao que a Líbia sofreu.

Recentemente, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores, manifestou vigorosamente as crescentes preocupações da Rússia. Moscou se mostrou frustrada com o ocidente e a Turquia, que têm interferido claramente no caso sírio, não só contrabandeando armas para o país e incitando confrontos que, cada vez mais, empurram os sírios para uma guerra civil, mas, também, sabotando ativamente todas as tentativas para iniciar um diálogo nacional entre o regime sírio e a oposição.

A posição dos Brics também será bem recebida em Damasco e em Teerã. Mas, ao contrário, implica dificuldades para os EUA e seus aliados, que investem muito em fazer crescer a tensão contra a Síria e o Irã. A Índia ter participado da reunião em Moscou, bem como assinado o comunicado conjunto também é notícia particularmente importante. Washington registrará. A Rússia, na prática, conseguiu que os Brics assinassem clara censura às políticas intervencionistas dos EUA no Oriente Médio[2].

Muito claramente, não há caminho aberto, agora, para que os EUA consigam arrancar autorização do Conselho de Segurança da ONU para qualquer tipo de intervenção na Síria. A Turquia, em relação à Síria, pode ter dado passo maior que as pernas. E Israel também recebeu uma reprimenda.

A formulação que se lê no comunicado conjunto dos Brics – “segurança igualitária e confiável” para os países do Golfo Persa, a partir de um “sistema de relações” – pode ser vista, sim, como repúdio ao advento da Otan como provedor de segurança para a região. O comunicado conjunto dos países Brics pode ser lido em http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/comunicado-conjunto-por-ocasiao-da-reuniao-de-vice-ministros-de-relacoes-exteriores-do-brics-sobre-a-situacao-no-oriente-medio-e-no-norte-da-africa-2013-moscou-24-de-novembro-de-2011 (hoje, ainda em inglês. 
 
Aliás, por que em inglês?! 
Já deveria, evidentemente, lá estar, é claro, em português [NTs]).
[1] Sobre o mesmo assunto, interessante ver, para comparar, o que diz a BBC Brasil
(“Diplomacia dos Brics lança comunicado conjunto sobre a Primavera Árabe”, 24/11/2011, Brasília, em http://www.bbc.co.uk/portuguese/ultimas_noticias/
2011/11/111124_brics_primavera_arabe_rn.shtml.
Fica-se sem saber se o jornalista e o jornalismo e o jornal são mesmo insanavelmente incompententes
para o trabalho que deveriam saber fazer, mas não sabem, ou se há, mesmo, claro e ativo ânimo de
desinformar [NTs].

Sintonia Fina

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